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Sábado, Dezembro 21, 2024

Antes de nascer

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Antes de nascer tinha feito um pedido profundo e sentido não sei bem a quem, mas falei sozinho, alto, talvez alguém me ouvisse. Queria ter mãe.

Antes de nascer tinha feito um pedido profundo e sentido não sei bem a quem, mas falei sozinho, alto, talvez alguém me ouvisse.

Queria ter mãe.

Tinha ouvido de tantos lados coisas horríveis de filhos sem mãe e mulheres que apenas produziam filhos e pronto, mas, como não sabia ler, ficava-me pelo que ouvia e hoje fico a saber que nem sempre do que se ouve vem verdade, é horrível inventar por inventar, mas porque fazem disto estes que apenas crescem ou nascem para inventar o mal?

Antes de nascer, havia feito um pedido a Deus:

que me dês uma mãe que me ame, que não me abandone e que me dê nome, coisa assim sei lá, daquelas que abraçam os filhos ao anoitecer e os fazem acordar pela manhã,

“acorda amor, aulas às oito!”

e assim se foi passando até que um dia enfim nasci, não vinha lá com muita vontade, pois, o que ouvia era tão ruim que temia mesmo nascer para nunca ter mãe, e o medo crescia em mim como o vento que me enfiaram no ventre da mãe para eu nascer, é que estava difícil nascer, verdade, tantas as coisas que ouvia que me atenoravam e assim nem nascer queria, mas, coisas do destino e com isso a gente não pode brincar, a hora lá chegou.

Fui sugado daquele lugar onde estava tão bem e feliz, é que lá nem precisava de chorar para comer ou beber, tudo acontecia porque estava no corpo de quem à partida eu pensava ser o amor da minha vida.

A minha mãe.

Nasci. Cresci. E agora, aqui estou, distante de tudo e de todos e indo como se nada acontecesse, pois, já nasci e aqui estou, mas antes, pedia tantas vezes:

Quero ter mãe, pode ser destino?


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