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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

António Anselmo Aníbal

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

1942 – 2009

Corajoso dirigente académico e cidadão com uma lúcida e permanente intervenção cívica, Anselmo Aníbal distinguiu-se pela sua dedicação consistente à causa pública e pelas excelentes qualidades humanas e profissionais. Era um homem extremamente afável e de grande generosidade.

Biografia

Nasceu em 1942 na cidade do Porto, onde o pai, sargento do exército, fora colocado. Aí faz os primeiros anos da escola primária. Já em Lisboa, frequenta o Liceu D. João de Castro. Em 1956, morre-lhe o pai e, aos 14 anos, vê-se confrontado com dificuldades económicas e a necessidade de assegurar a subsistência da família (uma mãe sem emprego e um irmão doente). Concilia então, e durante todo o percurso académico, o estudo com algum trabalho.

A partir do 5º ano do liceu a Gulbenkian atribui-lhe uma bolsa de estudo. Nesses anos encontra na JEC o espaço em que a sua capacidade de organização e de intervenção se revela e onde reflecte já um pensamento ideológico de combate à ditadura.

Não obstante os períodos de dúvida religiosa, manteve-se até 1961 ligado à JEC de Lisboa como seu presidente.

Universidade: crise de 62 e a ida para Lille

A entrada na Universidade coincide com a crise académica de 62, e certo do papel que essas lutas desempenhavam no futuro político do país encontrou nela o modo de assumir uma posição activa na oposição ao regime.

Crise académica de 1962. Cidade Universitária, Lisboa.

“Ser consequente”, escreveria mais tarde, “era então ser próximo de quem dispunha da combatividade necessária para enfrentar o primarismo e a brutalidade da repressão”. De 1963 a 1965 é presidente da Associação dos estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa e membro do Secretariado das Reuniões Interassociações (RIA). Em 1965, por despacho ministerial, é expulso por um ano de todas as universidades nacionais.

Nesse ano faz uma pós graduação em Ciências Humanas na Universidade de Lille III como bolseiro do Governo francês. Não fica em França, como chegou a ponderar, regressa ao País termina a tese de licenciatura

Entre as aulas numa escola particular e o serviço militar vai, nos anos que se seguem, intervindo na CDE e publicando alguns artigos na Seara Nova e na Análise Social. Emprega-se, entretanto, no Banco Totta Açores onde, profissionalmente, se manterá sempre.

Em 29 de novembro de 1965, casa com Graça Cabeçadas. Ele com 23 anos e ela com 19, passam a viver em Lille, onde Anselmo Aníbal termina a tese de licenciatura em filosofia, que o regime o tinha impedido de concluir nas universidades portuguesas

O PS, e funções legislativas

Com o 25 de Abril integra o Partido Socialista e vai exercer funções de dirigente no Instituto de Tecnologia Educativa (ITE). Em 75 deixa o PS e aceita, como independente, o cargo de Secretário de Estado da Administração Pública do V Governo Provisório.

De 1980 a 1987 é deputado à Assembleia da República pela APU, Vice Presidente da Comissão Parlamentar de Administração Local, durante a 3ª Legislatura e Presidente da Comissão Parlamentar do Equipamento Social na 4ª Legislatura.

Vereador em Lisboa

Desempenhou o cargo de Vereador no Município de Lisboa ao longo de 17 anos, entre 1976 e 1993, durante os mandatos dos presidentes de Câmara Aquilino Ribeiro Machado, Nuno Cruz Abecassis, Jorge Sampaio e João Soares.

Foi vereador da oposição entre 1976 e 1989 e vereador com funções executivas, entre 1990 e 1993, do Pelouro da Organização e Modernização Administrativa e do Pelouro da Intervenção Social.

Sempre próximo de organizações cívicas como o Conselho para a Paz e Cooperação, fez parte, desde os anos 90, dos órgãos da Civitas (Associação para a defesa e promoção dos direitos dos cidadãos).

De 1999 a 2001 preside à Comissão Instaladora da Inspecção Geral da Administração Pública e, em 2002, é nomeado Presidente do Instituto para a Inovação na Administração do Estado.

Foi, desde 1974, professor convidado no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e, desde 1999, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).

Reconhecimento público

Foi condecorado com a medalha de Mérito – Grau de Ouro, pelo Eng. Kruz Abecassis, em reconhecimento do seu serviço à cidade de Lisboa.
Em 2006 foi-lhe conferido, pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, o Grau de Comendador da Ordem do Mérito.

Em 2009, três meses antes de falecer, e já muito doente, assinou o apelo à participação no desfile da comemoração dos 35 anos da Revolução dos Cravos.

Além de numerosos artigos na imprensa, e de intervenções em congressos, nomeadamente sobre Direito Administrativo, publicou “A gestão de recursos humanos e os direitos dos trabalhadores”, com Vítor Costa, na Editorial Caminho (1988).

Antes do mais, o medo é a impotência sobre o futuro. É a admissão de que o presente é inalterável. É crer que a vontade e a acção nada podem sobre as circunstâncias. Quem tem medo não tem confiança na eficácia das suas tentativas para transformar o mundo; submete-se a ele.(…) Se tem medo, se tem muito medo, aja. E o medo morrerá.

 

Biografia da autoria de Helena Pato, com dados biográficos informados pela família.

Fotografias facultadas pela família de Anselmo Aníbal.

 

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