(N. 1938)
Engenheiro Técnico Agrário e político, António Campos é uma personalidade singular de vários pontos de vista: humano, cívico, técnico e como estudioso dos fenómenos rurais, num mundo globalizado. Um cidadão profissionalmente competente e desassombrado nas críticas e denúncias que, no exercício de cargos ou funções, nunca se coibiu de fazer. Politicamente muito arguto e de grande abertura no diálogo com outras correntes políticas, teve um papel importante quer nos combates contra a ditadura fascista, quer na construção da democracia portuguesa.
Socialista democrata
António Carlos Ribeiro de Campos, filho de uma família abastada da Beira, republicana e anti-clerical, nasceu em Oliveira do Hospital, em 24 de Julho de 1938. Fez aí o liceu e, depois, o curso de “regente agrícola” na Escola Agrícola de Coimbra. Participou, então, activamente na vida associativa académica. Esteve preso em 1962, ainda que por pouco tempo. Aos poucos foi-se envolvendo nas actividades políticas contra a ditadura e contra a guerra colonial e, cedo, fez a opção pelo “socialismo democrático” – porventura influenciado por dois grandes amigos da região: Miguel Torga e Fernando Vale.
Em 1964, já António Campos aderira à Acção Socialista Portuguesa (ASP). Em 1973 foi um dos fundadores do Partido Socialista.
Em 1969 e em 1973, foi candidato da CDE pelo distrito de Coimbra, nas eleições à Assembleia Nacional.
Campanha eleitoral da CDE (1969), em Coimbra
Denunciou corajosamente interesses e lobbies
António Campos foi deputado na Assembleia Constituinte e nas seguintes: I, II, III, IV e V. Exerceu o cargo de Secretário de Estado Adjunto e de Secretário de Estado da Agricultura nos I e II Governos e Secretário de Estado Adjunto da Presidência do Conselho de Ministros, no IX Governo. Mais tarde, durante dois mandatos, foi deputado do PS no Parlamento Europeu.
Em Bruxelas e em Estrasburgo, revelou grande competência, destacando-se como deputado português no Parlamento Europeu. Estudou em profundidade os complexos problemas da agricultura comunitária (preocupado sempre com a arruinada agricultura portuguesa, cuja decadência anunciada nunca aceitou) e com os problemas que se prendiam com a alimentação e a saúde das populações. Quer no plenário, quer na Comissão da Agricultura, bateu-se contra a pressão das grandes cadeias multinacionais em tempo de globalização, revelando grande lucidez, conhecimento e informação aprofundada da realidade, na forma como encarou os perigos daí decorrentes. Denunciou corajosamente interesses e lobbies[1].
Em 1994, na sequência de corajosa denúncia numa conferência de imprensa, foi acusado de um crime de difamação, por se ter referido ao Ministério da Agricultura como: uma coutada de comissários políticos, criando e protegendo uma rede de tráfico de influência, onde o compadrio e a corrupção eram acarinhados».
Em 2005, António Campos publicou o livro “Agricultura, Alimentação e Saúde”[2], obra considerada interessante e oportuna para quem quisesse compreender o que se estava a preparar em matéria de agricultura, de alimentação e de saúde para um futuro próximo. António Campos, um inimigo confesso da Política Agrícola Comum (PAC), à qual assacava grandes responsabilidades, inclusivamente no desregulamento da agricultura tradicional portuguesa, aborda a política agrícola da comunidade europeia, evidenciando as suas preocupações, entre as quais, com o facto de o património genético agrícola estar a ser apropriado pelas grandes multinacionais do sector.[3]
Dirigente do PS, desde 1974, foi responsável pela organização do PS durante dez anos, e mantém a sua actividade partidária na Federação de Coimbra do Partido Socialista.
Desde 1996, pertence ao Conselho Geral da Fundação Mário Soares.
Assumiu publicamente a sua convicção da inocência do ex-Primeiro Ministro José Sócrates, desde a sua prisão em 2014, acima de tudo pugnando pela defesa do Estado de Direito.[4]
Sessão da CDE na Figueira da Foz, no Teatro Parque-Cine, em 11/10/1969, presidida por Cristina Torres Duque.
Fonte: Imagoteca Municipal de Coimbra / Fundo Fernando Marques “Formidável” / Ref.ª 23938.
Conferência de imprensa da CDE de Coimbra, em 10/10/1969.
Na mesa: os candidatos António Campos, Rui Clímaco, Henrique de Barros, Orlando de Carvalho, António Arnaut e Mário Torres.
Fotografia de Fernando Marques, publicada em “A força do povo – O 25 de Abril em Coimbra”, com texto de Victor Costa, imagens de Alexandre Ramires e design de Ana Biscaia, edição Lápis de Memórias, 2014.
Fotografia da página de António Campos no Facebook. António Campos com Almeida Santos, Edmundo Pedro e Mário Lino.
António Campos com António Arnaut, na campanha eleitoral António Nóvoa em Coimbra.
Em 2014, António Campos em fotografia da página do facebook «Concelho de Viseu com o Partido Socialista».
[1] Foram exemplo disso os seus oportunos e pioneiros alertas para o escândalo das “vacas loucas” e para os perigos – e prejuízos imensos – que essa doença iria revestir, para a saúde pública. O tempo deu-lhe razão.
[2] Produto de uma longa e informada conversa com o jornalista Rui Cavaleiro.
[3] A Campos disse então: Recordo o que está a acontecer no México, onde as variedades autóctones do milho estão a ser trabalhadas com pequenas operações genéticas e patenteadas como sendo bens privados de empresas multinacionais”. Ou seja, o que AC chamou “a biopirataria da natureza feita pelas multinacionais”
[4] José Sócrates foi acusado de “crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais, corrupção e tráfico de influências”.
Dados biográficos:
- Parlamento: Biografia
- Fundação Mário Soares – PDF: Textos – Mário Soares
- PDF| Assembleia da República: Candidatos da oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo (1945-1973)
- Parlamento Europeu: António CAMPOS
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