O Governo vence o braço-de-ferro na TAP e obtém, no essencial, o que queria: o Estado recupera uma parte substancial da companhia e mantém o poder de decisão. Formalmente, não se tornou maioritário, pois passa a dispor exactamente de 50% da TAP, mas como vai nomear o presidente do Conselho de Administração, que tem voto de qualidade, isso significa que, na prática, só serão tomadas as decisões estratégicas que a equipa de António Costa entender. Já a gestão do dia-a-dia continua nas mãos dos investidores privados e Fernando Pinto mantém-se como o homem-forte da Comissão Executiva.
Para se chegar a este entendimento, o Estado assumiu ir gastar 1,9 milhões de euros na recompra de parte das acções a David Neelman e Humberto Pedrosa, que passam a deter uma fatia de 45%. Os restantes 5% estão destinados aos trabalhadores, mas podem passar para a empresa privada, que, assim, no limite, ficará com metade das acções.
Na cerimónia pública de apresentação do acordo era visível a satisfação de António Costa, a qual não parecia contagiar os parceiros privados. David Neelman confessou mesmo que “não estou a dizer que estou feliz”, mas mostrou-se focado em atacar os problemas que a TAP enfrenta. A situação, alertou, é “crítica”, há que renegociar com a banca para conseguir condições mais favoráveis e tomar medidas para fortalecer a companhia. O seu sócio, Humberto Pedrosa, viu-se forçado a ter de justificar a expressão que proferiu há algum tempo de que os planos do Governo e dos investidores privados não casavam. Afinal, reconhece agora, com “boa vontade e diálogo” foi possível que as negociações culminassem mesmo em “casamento”.
E trata-se de um casamento que será para lavar e durar, disso estão convencidos António Costa e o ministro Pedro Marques, que conduziu as negociações. É que o acordo existente podia levar a que o Estado dentro de dois anos saísse da TAP, situação que foi revertida. A convicção de António Costa é que “iremos ser sócios para sempre”. O primeiro-ministro assegurou que nunca houve um conflito com os dois empresários, o que houve sim foi “um conflito sobre opções políticas” que lhes é totalmente alheia.
A partir de agora, as duas partes estão convencidas de que há condições para dar maior solidez à transportadora aérea portuguesa e resolver os graves problemas que enfrenta. Do mesmo não está convencido o PSD, que se mostrou muito preocupado com o acordo, e já anunciou ir chamar ao Parlamento o ministro Pedro Marques para explicar em pormenor todo este processo.
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