Sinto-me a perpétua ir das suas lágrimas neste esplendor de sons tão peçonhosos, estes rios que secam na aurora no definhar das ideias. Um passarinho obtuso no chão sujo de quimeras e palavras amargas, um defunto que caminha sem saudades da vida.
Os passos que ouço são o abismo que se aproxima, a espuma que toma conta dos meus olhos e mos cegam como goivos sem asas, sou a mísera peralta de todas estas assombradas verdades, as que se me inculcam no esqueleto e ainda tento, mesmo sem asas, voar como um platónico escarnecido e apenas isso.
Carne sem ossos e sem essência.
Sinto-me completamente embriagado com estes ventos que me cercam, estes andros de vozes caladas nos estribos da fantasia, nas melodias que nunca se chagam, um longe cada vez mais presente nesta cabeça estiolada pelas ancoras de passos corrosivos. A minha cabeça parece querer deixar de existir, fumegar palavras irrefutáveis como quem fala ao desdém de costas abrasivas e incólumes.
Quem me diz se isto cansa?
“apenas a lua quando acorda”
Tudo isto são avenidas de sentido proibido. Revestidas de lama escorregadia. De petulância nos gestos, os açoites disfarçados, do sono de morte a que me levam as ideias.
Sinto-me já o defunto de mim mesmo nestas cartas que escrevo para o céu.
Prefiro caminhar de olhos fechados para que não veja as árvores tombarem à minha frente, o ruído das suas quedas sobre este ombro dorido de ânsias.
Deixa-me caminhar se puderes, deixa-me respirar se conseguires. Não quero hibernar para dentro das minhas tão confúcias algemas no corpo preso ao infortúnio que é esta luz que me encarde e encaminha para os nadas que suam. E gesticulam. E vomitam as suas sanguinárias ostentações e domínios disfarçados em flores do planalto mais alto se é que existe, mas sinto-o aqui bem presente como cestas para vender desejos.
Sinto o meu corpo num leilão.
E como sei ter sido já um leão. O gato sem pele nas agruras de palavras miada na esquina.
“apenas a lua quando acorda”
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