A britânica Cambridge Analytica havia firmado sociedade com o publicitário brasileiro André Torretta para a criação da CA Ponte para atuar nas eleições de 2018. Mas de acordo com Torretta, a parceria está suspensa diante das denúncias de práticas abusivas de coleta de dados e manipulação de informações nas redes para favorecer candidatos.
A Cambridge coletou dados pessoais de 50 milhões de usuários do Facebook nos EUA, eventualmente cruzando-os com informações eleitorais, de modo a permitir identificar e influenciar as suas pretensões de votos na eleição que levou Donald Trump à presidência dos EUA.
De acordo com denúncias, os dados foram obtidos por meio de um aplicativo que permitia coletar os dados seus e dos seus amigos no Facebook. O aplicativo foi desenvolvido por um pesquisador da Universidade de Cambridge que informou que os dados pessoais seriam coletados para fins de pesquisa científica e com isso obtendo autorização dos usuários.
“Certamente dentre esses dados estão muitas brasileiras e brasileiros”, afirmou a deputada estadual e pré-candidata do PCdoB à presidência, Manuela D’Àvila. A parlamentar defende a regulamentação de uma lei que assegure o direito constitucional à privacidade dos usuários.
“Por essa e por outras questões, sou a favor da aprovação da Lei de Proteção de Dados e temos que ter o compromisso de todos os candidatos com a aprovação dessa lei”, afirmou Manuela em vídeo publicado nas redes sociais em que explica o método usado por empresas como a Cambridge para roubar informações e utilizá-las para atender interesses alheios.
Publicado por Manuela D’Ávila em Quarta-feira, 21 de Março de 2018
“A privacidade de dados é fundamental para garantir a tua privacidade, a soberania nacional e também os negócios justos”, acrescentou Manuela.
De acordo com Manuela, o projeto de proteção de dados pessoais não visa impedir pesquisa, estudo ou publicidade, mas assegurar o respeito à privacidade de cada cidadão. “A ideia é criar padrões éticas para que seus dados não sejam usados contra você”, reforçou Manuela.
De acordo com informações, a Cambridge Analytica também teria atuado de forma ilegal na campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE) é apelidada de Brexit.
Em um vídeo gravado e divulgado pelo Channel 4 News, do Reino Unido, nesta semana, dois dos mais altos executivos da empresa afirmam que usaram a coleta de dados ilegal em outros países, como México e Malásia, e que estavam vindo para o Brasil participar da eleição de outubro deste ano utilizando os mesmos métodos.
No vídeo, gravado entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, Alex Tyler, chefe de dados da consultoria, diz que a coleta de dados pessoais ajuda a segmentar a população para “passar mensagens sobre questões com as quais se importam e linguagens e imagens com as quais provavelmente se engajam”.
“Usamos isso nos Estados Unidos, na África… É o que fazemos como empresa”, confessa Tyler. “Fizemos no México, na Malásia, e agora estamos indo para o Brasil, China, Austrália…”, acrescenta o diretor-gerente da empresa, Mark Turnbul.
De fato, no período em que foi gravado esse vídeo, novembro do ano passado, o marqueteiro André Torreta já comemorava a sociedade com a Cambridge Analytica. Na época ele dizia que tinha aproximadamente 700 pontos de dados de cada brasileiro para análise e direcionamento de propaganda política nas eleições de 2018.
A empresa já negociava contrato com três possíveis candidatos. Especulações apontam que um deles seria João Doria. “Já fiz muita palestra para o Doria, para o Lide . É uma conversa que eu não posso negar”, disse Torreta sobre trabalhar com Doria.
Até algumas semana, o marqueteiro pouco se importava com os critérios éticos da empresas britânica. “Eu comprei uma praia e não quero que as pessoas entrem. Qual é a melhor placa para eu fincar na areia?”, indagou Torretta numa entrevista em outubro, enquanto mostrava duas fotos em uma apresentação de Power Point em seu MacBook.
“Essa, dizendo que a praia é privada, ou essa, dizendo que a praia tem tubarão? A que tem tubarão funciona mais”, disse, sorrindo. “Se não tiver tubarão, então é uma fake news”, concedeu. “Eu não vou fazer isso, mas isso existe, é possível e dá para ser feito, no limite da ética”, argumentou.
Agora, Torreta diz que foi pego de surpresa com a investigação aberta contra a Cambridge Analytica e que suspendeu a parceria com a consultoria britânica.
Por Dayane Santos | Texto original em português do Brasil
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