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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Armando Adão e Silva

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1909 – 1993)

Combatente contra o fascismo e pela Liberdade, democrata de grande carácter e tenacidade, foi inquestionavelmente uma das grandes figuras da Resistência. Esteve preso pela PIDE por várias vezes, mas nada o fez quebrar.Armando Adão e Silva nasceu em Lisboa, em 24 de Fevereiro de 1909. Depois dos estudos liceais no Gil Vicente, frequenta a Universidade de Direito de Lisboa, onde se forma, em 1931. Foi colega de curso de outros prestigiados democratas: Acácio Gouveia, Fernando Olavo, José Magalhães Godinho, Teófilo Carvalho dos Santos e Nuno Rodrigues dos Santos. Seguiu a profissão de advogado, especializado em questões de matéria comercial.

Adão e Silva é iniciado na maçonaria a 27 de Janeiro de 1935, na Loja Liberdade nº 197, da qual foi Venerável durante a clandestinidade (a Loja Liberdade foi das poucas lojas que se mantiveram em actividade durante a clandestinidade).

Actividade política

Em 1943 foi membro fundador da União Democrática (que se fundiu, no ano seguinte, com o Núcleo de Doutrinação e Acção Socialista, dando origem à União Socialista). Fez parte do MUNAF e do MUD, integrando a primeira comissão central deste movimento unitário. Participou na célebre reunião de 8 de Outubro de 1945, no Centro Escolar Republicano Almirante Reis, que iria dar origem à constituição do MUD, sendo um dos subscritores do requerimento ao governador civil de Lisboa a pedir autorização para a referida reunião (juntamente com Afonso Costa filho, Alberto Candeias, Guilherme Canas Pereira, Gustavo Soromenho, José Magalhães Godinho, Luís da Câmara Reis, Manuel Catarino de Castro, Mário Lima Alves, Manuel Mendes, Teófilo Carvalho dos Santos).


Comissão Central do MUD à saída do Governo Civil de Lisboa, onde foi chamada depois da apresentação das listas de apoiantes do movimento. Canas Mendes, Câmara Reys, Afonso Costa, Alberto Candeias, Mário Lima Alves, José Magalhães Godinho, Adão e Silva, Gustavo Soromenho e Manuel Mendes
(Imagem: Fundação Mário Soares)

Participou nas campanhas eleitorais para a Presidência da República realizadas em 1949, 1951 e 1958 mas, no rescaldo da candidatura do general Norton de Matos, apoiou o sector da oposição (a Comissão dos 24) que rompeu com o Partido Comunista e defendeu publicamente a integração de Portugal na NATO.

Em 1949, participa no Directório Democrato-Social (grupo de republicanos, conhecidos por “Os Barbas”, onde se integravam Acácio Gouveia, António Sérgio, Azevedo Gomes, Carlos Sá Cardoso, Jaime Cortesão, Nuno Rodrigues dos Santos, Raul Rego).

Em Maio de 1953 é um dos fundadores da “Comissão Promotora do Voto”, uma iniciativa de António Sérgio (e de Luís de Almeida, Manuel Duarte, Mayer Garção, João Pedro dos Santos, Nuno Rodrigues dos Santos), em vésperas das eleições legislativas de Novembro desse ano, e que contou com o apoio do Directório Democrato-Social.

Em 1954, Adão e Silva foi um dos subscritores da tentativa de fundação da associação política “Causa Republicana”, que não foi autorizada pelo Estado Novo (fez parte da sua comissão fundadora, que integrava, entre outros, Barbosa Magalhães, Azevedo Gomes, Cunha Leal, Marques Guedes, José Domingos dos Santos, Ramada Curto, Câmara Reis, Ramon De La Feria, Dias Amado, Mayer Garção, Casais Monteiro, Sá Cardoso, Acácio Gouveia, Nuno Rodrigues dos Santos, Gustavo Soromenho; do mesmo modo, iria integrar, a 5 de Outubro de 1954, o Secretariado da projectada associação).


Apresentação das candidaturas da oposição no Centro Republicano José Estevão. Mário Soares no uso da palavra. Armando Adão e Silva é o é o 1º à direita

Adão e Silva apoiou sempre as campanhas eleitorais contra a ditadura, tendo sido candidato da Oposição nas eleições legislativas de 1953, 1965 e 1969.

Foi preso em 1959 e, por ter sido um dos 62 signatários do “Programa para a Democratização da República” (1961), foi de novo levado para a prisão.

Pertenceu à Liga Portuguesa dos Direitos do Homem (fundada em 1923 por Sebastião Magalhães Lima), fazendo parte do seu directório.

Integrou a Comissão Executiva das Comemorações do Cinquentenário da República (1960).


Comissão executiva para as Comemorações do Cinquentenário da República
Num almoço que decorreu no restaurante Colombo. De pé: Areosa Feio, Armando Adão e Silva, Nuno Rodrigues dos Santos, Carlos Pereira, Homem Figueiredo, José Rodrigues dos Santos, Piteira Santos, Rui Cabeçadas, Joaquim Bastos. Sentados: Mário Soares, Acácio Gouveia, Mário de Azevedo Gomes, Mayer Garção, Armando Castanheira
(Autor da foto: Telmo Rosa) (Imagem: Fundação Mário Soares)

Foi por diversas vezes advogado dos presos políticos, nos tribunais plenários.

Não integrou a Acção Socialista, nem aderiu à fundação do Partido Socialista.

Deputado e advogado

Após o 25 de Abril de 1974 foi deputado pelo PSD, eleito por Lisboa, na I Legislatura. Em 1976 tentou lançar, com Adelino da Palma Carlos, um partido denominado Partido Social-Democrata Português, que não vingou. Foi eleito deputado pela Aliança Democrática, nas eleições intercalares de Dezembro de 1979, pelo círculo de Aveiro.

Mais tarde, filiou-se no Partido Socialista, de que se demitiria a 1 de Dezembro de 1978, afastando-se então, também, da Assembleia Municipal de Lisboa, de que fazia parte.

Como advogado, dedicou-se às questões comerciais e foi consultor jurídico de várias associações comerciais. Integrou por diversas vezes os corpos directivos da Ordem dos Advogados: foi membro (1942-1944) e vogal (1945-1947) do Conselho Distrital de Lisboa; e membro (1972-1974) do Conselho Superior.

Foi também membro da Comissão dos Direitos do Homem. Interessado pelo desporto, fez parte do conselho jurisdicional do Sport Lisboa e Benfica e foi presidente da Associação de Futebol de Lisboa.

Maçonaria

Armando Adão e Silva esteve presente na reorganização do GOL (acompanhando nessa missão outros dedicados maçons, como A. H. de Oliveira Marques, Carlos Sá Cardoso, o comandante Simões Coimbra, Luís Dias Amado, Luís Gonçalves Rebordão, entre outros) e teve intervenção importante na restituição do Palácio Maçónico. O Palácio Maçónico tinha sido ocupado – como resultado da Lei 1901 contra as Associações Secretas – pela Legião Portuguesa, em 1937, com o confisco dos seus bens. A Lei 1901 foi anulada a 4 de Novembro de 1974 e o Palácio foi restituído aos seus legítimos proprietários. Adão e Silva foi eleito Presidente do Conselho da Ordem do GOL e, em 1981, sucedeu a Dias Amado como Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, mantendo-se no cargo até 1984.

Morreu em Lisboa, a 1 de Abril de 1993.


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