Na nossa organização social existe um modelo de autonomia com tipificação funcional no tecido urbano e também no tecido rural de interesses amplos ou mesquinhos consoante o contexto, vulgarmente designado a Norte, e por ventura no todo nacional, por “capelinhas”.As “Capelinhas” são grupos circunscritos: de amigos; de compromissos; de cumplicidades; outros.
Sempre na esfera de um núcleo duro com uma chefia que sobressai por desempenho ascendente sobre os demais e que condiciona toda a movimentação do grupo, criando em seu redor barreiras mentais e sociais inultrapassáveis o que os torna em agentes ativos de relevo da exclusão social generalizada existente mesmo que em contexto diferente por formação interativa e de reação a estímulos externos para com a sociedade no seu todo.
Funcionam em células estanques em movimento harmónico selando os compromissos na base da cumplicidade instituída e a chefia aceite. No entanto, porque existe no seu seio a noção da necessária ligação ao meio social envolvente, com quem tem de criar “pontes” de diálogo concertado das cúpulas para as células complementares, aceitam a concertação mental posterior a que se submetem e articulam como se de uma só corrente do pensamento se trate.
A “Capelinha” é assim, uma organização seletiva de núcleos agrupados de indivíduos. Uma espécie de vírus social assente em pilares de cumplicidades pessoais subjugadas que limita a criatividade individual sustentada pelo conhecimento e pela liberdade em discernir.
Deste comportamento grupal resultam efeitos persuasores que influenciam a submissão suportada por preconceitos que tudo ensombram com ascendente para o medo. Sendo que, neste contexto, o maior medo é ter medo da própria sombra!
Um medo incapacitante. Que não deixa o indivíduo raciocinar e limita a sua função intelectual impedindo-o de colocar à apreciação e discussão dos seus pares o resultado desse comportamento coletivo nos momentos em que sente essa pressão que o torna impotente.
Circunstância que diretamente exerce “força” de censura sobre o pensamento e a opinião só porque se supõe não ser do agrado da chefia, a quem agrada este tipo de modelo comportamental que, classifica de “tique” e rotula de transversal e inocente. Inclusive, sensato. Tão só porque serve os seus interesses.
No entanto, como todos sabemos, aquilo que acontece é que cada meio gera comportamentos diferenciados consoante as influências dominantes e a educação por estas ministrada através dos seus circuitos e ciclos de exercício do poder. Não importa por isso se a Norte, Centro ou Sul do País. Importando, isso sim, fazer com regularidade a leitura necessária e o juízo intelectual possível daquilo que são as grandes linhas do pensamento que mesmo circunscrito incorpora em si linhas gerais articuladas nas engrenagens diversas desmultiplicadoras da que é a engrenagem central. O interesse instituído.
Nesse contexto, o do comportamento social, a submissão perante as “capelinhas” é dominante porque trata do comportamento social em grupo restrito. Grupo esse com uma hierarquia própria, do género tribal, aonde a intrusão é impossível e a aceitação de terceiros, um processo lento. Fazer parte integrante desse grupo pode ser o trabalho de uma vida ou mesmo, impossível.
Daí que, a hereditariedade, os parceiros desde os bancos da escola, de curso, da cumplicidade por motivos diversos e demais condicionantes de trajeto de vida sejam os pilares e alavanca desses núcleos locais, nuns casos e, nacionais, noutros casos, e de idolatria da mediocridade genuína.
Esta evidência tem repercussões sociais graves de exclusão social nunca estudados, desde a infância à velhice, de xenofobia generalizada, de racismo disfarçado: uma panóplia de evidências que incutem no meio as sombras do medo que espalham.
As “capelinhas” existem nos mais diversos níveis sócio-económico e culturais aonde se assumem como matriz enraizada. A sua maior expressão encontramo-la, paradoxalmente, no movimento associativo transversal: comunitário; social; cultural; sindical; corporativo; cooperativo e politico, entre outros.
No entanto, as “capelinhas” que mais se centram na exclusão dos que ajuízam por dispensáveis são as do foro político-partidário e sócio-profissionais. São estas também as que mais persecução fazem sobre todos aqueles que têm por “inimigos”.
As “capelinhas” que se movimentam no meio de crenças religiosas e outras, assim como aquelas que se inserem no tecido obscuro da organização secreta, são intolerantes para com confissões adversas e exímias no castigo da desobediência interna.
Por estas e outras, o combate social deve ser sempre coletivo, e nunca restrito a um conjunto de indivíduos que facilmente se deixará seduzir por cúpulas anquilosadas no poder e que dessa condição não abrem mão.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90