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Domingo, Novembro 17, 2024

As causas do choro de Gilmar Mendes e de Lula

Gilmar Mendes e Lula choraram pela democracia, diz José Sócrates.

“O choro de Gilmar e de Lula é pela democracia. Mas é também um choro que nos lembra que ela existe.” Foi o que disse José Sócrates, ex-primeiro ministro de Portugal, sobre o telefonema do ministro ao ex-presidente para prestar condolência pela morte do neto de Lula, de 7 anos, em carta escrita em março deste ano.

Quando Gilmar falou com Lula disse que sentia a dor dele, por também ser avô. E os dois começaram a chorar.

Segundo José Sócrates, para o observador desatento, o telefonema parecia “apenas um gesto terno”. De perto, denotava um resquício da civilidade e dos ideais democráticos, que, após o fim da ditadura militar no Brasil, permitiram a transformação de “velhos inimigos em leais adversários”.

Assista a José Sócrates comentando o caso, em entrevista ao site Migalhas:

Sócrates não poupou elogios à atuação de Gilmar no combate aos abusos da “lava jato”. Destacou ter começado a prestar atenção na atuação do ministro quando este primeiro se opôs à condução coercitiva, símbolo inicial da agressão que se anunciava. “Vi como se alinhou com a defesa dos direitos individuais que constituem a base da legitimidade penal do Estado democrático, sabendo que sem eles não há nem segurança nem liberdade”, afirmou.

“Também não me escaparam os seus discursos contra a corrente punitivista e a coragem com que enfrentou o caminho do autoritarismo penal”, apontou, ressaltando que, em várias ocasiões, a defesa da garantia democrática opôs Gilmar Mendes a colegas de corte que tinham sido nomeados por presidentes petistas (Gilmar entrou no STF no governo de Fernando Henrique Cardoso).

“O que me pareceu ver no telefonema de Gilmar Mendes”, continuou Sócrates, “para além simples decência e humanidade, foi uma cena tocante de dois personagens que choravam por um mundo que já tiveram em comum e que parece agora perdido. Um mundo construído enquanto adversários políticos e que, justamente por essa razão, é também um mundo que os une. Um mundo que foi capaz de se elevar acima do trauma e da violência da ditadura”.

Apesar do tom de tristeza, o pronunciamento do ex-primeiro ministro português termina com uma nota otimista, afirmando que, se dois personagens opositores foram capazes de chorar juntos a perda da civilidade e dos ideais democráticos, o choro também nos lembra da própria existência da democracia. “Afinal, há mais mundo para além deste em que o Brasil vive”.

Clique para ler o texto de José Sócrates.


Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV (Conjur) / Tornado


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