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Sábado, Novembro 2, 2024

As conexões internacionais tenebrosas do bolsonarismo

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Se Jair Bolsonaro já pensava em não voltar ao Brasil para responder à Justiça pelos muitos crimes que cometeu no exercicio da Presidência, a revelação do genocídio programado dos índios Ianomami deve reforçar essa disposição de fuga. O ministro do STF Gilmar Mendes está dizendo que “a apuração de responsabilidades é urgente”.

Em seu plano de impunidade pela fuga, ele continuará contando com suas conexões internacionais tenebrosas, e especialmente com o apoio da extrema direita americana-cubana, que teve papel relevante na produção do ambiente político e na longa lista de ações golpistas que levaram ao 8 de janeiro no Brasil, em tudo semelhante ao ataque ao Capitólio americano em 6 de janeiro de 2021.

Fontes diplomáticas radicadas na Flórida dão conta de que o senador Marco Rubio, da ala extremista do Partido Republicano, vem agindo para dificultar ao máximo uma eventual extradição de Bolsonaro para o Brasil, caso ela venha a ser pedida pela justiça brasileira.  Entre elas, a imposição de  exigências inaceitáveis, como a de que nenhum processo seja movido contra o ex-presidente, o que seria uma clara ingerência nas leis e no ordenamento jurídico brasileiro.

Bolsonaro, neste momento, é alvo de quatro inquéritos que tramitam no STF e de pelo menos 15 açoes judiciais eleitorais junto ao TSE, que podem levar à sua inelegibilidade por oito anos.

Ao longo dos últimos quatro anos, o bolsonarismo manteve um estreito contubérnio com a extrema direita norte-americana e seu braço cubano, de clara orientação terrorista,  que atuam especialmente em Miami, na Flórida. A “cooperação” estreitou-se principalmente depois que Lula foi libertado e recuperou seus direitos políticos, tornando-se alternativa eleitoral viável contra Bolsonaro. Não é segredo que a difusão de discursos de ódio e de fake news e a incitação à violência ao longo dos últimos anos seguiram os mesmos métodos e práticas adotados pela conexão do norte.

Personagens e ligações perigosas

A extrema direita cubana que atua em Miami fez da cubana auto-exilada no Brasil Zoe Martinez não apenas uma aliada incondicional, mas também um elo efetivo entre Bolsonaro, através de seu filho Carlos, e os extremistas cubanos radicados no sul da Flórida.

Como influenciadora digital que tem cerca de 950 mil seguidores no Twitter e um canal no Youtube com 450 mil inscritos, e forte presença em outras plataformas, ela teve um papel relevante na mobilização dos radicais bolsonaristas através das redes sociais, alimentando-os com discursos golpistas e propostas de ação, monitorando e mantendo Bolsonaro informado da temperatura de suas falanges.

Zoe Martinez atuava como comentarista no grupo Jovem Pan, que a demitiu, juntamente com Rodrigo Constantino, no último dia 16. Eles haviam sido afastados no dia 11, quando o MPF-SP instaurou inquérito contra o grupo de comunicação por disseminar fake news e incentivar atos extremistas.

Ela foi apresentada nas redes sociais na Flórida por personsagens como o terrorista cubano Manuel Milanés Pizonero, organizador e financiador de ações violentas em Cuba. Entre elas, a derrubada de torres de alta tensão, prática replicada no Brasil nos dias que se seguiram à tentativa de golpe do dia 8 de janeiro.

A ativista conta também com o apoio público de um dos organizadores do ataque ao Capitólio e de ações terroristas em Cuba,  Alexander Otaola Casals. Em 2022 ela assegurou-lhe que poderia acontecer no Brasil algo semelhante ao 6 de janeiro norte-americano, caso Bolsonaro viesse, como Trump, a ser derrotado nas eleições.

Em suas redes sociais, Zoe Martinez defendeu uma intervenção militar humanitária em Cuba, no curso dos protestos ocorridos na Ilha em 11 de julho de 2021, nos quais esteve envolvido outro amigo da familia Bolsonaro, Orlando Gutiérrez Boronat. Logo depois de eleito, em 2018, Bolsonaro o recebeu em sua casa no Rio, e dali em diante a “cooperação” estreitou-se.

Empossado, uma das primeiras medidas de Bolsonaro foi romper o acordo que permitia a participação de médicos cubanos no programa Mais Médicos. Para a  extrema direita cubano-americana, o apoio a Bolsonaro e o combate a Lula é importante para evitar a retomada da cooperação entre Brasil e Cuba, como no Mais Médicos e na aquisição de vacinas contra a Covid. Em Buenos Aires, onde participa da reunião da Celac, Lula deve encontrar-se com o presidente cubano Diaz-Canel, entre outros líderes latino-americanos, retomando o protagonismo do Brasil como líder regional.

Levamos 20 anos para saber qual foi a participação dos Estados Unidos no golpe de 1964. Agora precisamos não apenas de ver os golpistas brasileiros, civis ou militares, devidamente punidos. Precisamos saber qual foi o papel da extrema direita norte-americana e de seu braço cubano na tentativa de golpe do dia 8 de janeiro. Em suas investigações, a Policía Federal não pode ignorar as relações entre Bolsonaro, seus filhos e aliados com a conexão terrorista baseada na Flórida, onde ele descansa.

A sequência de fotos que se segue ilustra estas relações tenebrosas.

Zoe Martinez e Jair Bolsonaro (Photo: Reprodução/Facebook) Reprodução/Facebook

Zoe Martinez e Jair Bolsonaro. No detalhe acima, um boneco relativo ao “presidiário” Lula.

Eduardo Bolsonaro e Orlando Gutiérrez-Boronat (Photo: Reprodução/Twitter/@BolsonaroSP) Reprodução/Twitter/@BolsonaroSP

Eduardo Bolsonaro e Orlando Gutiérrez-Boronat

Jair Bolsonaro e Orlando Gutiérrez-Boronat (Photo: Reprodução/Facebook/Orlando Gutiérrez-Boronat) Reprodução/Facebook/Orlando Gutiérrez-Boronat

Jair Bolsonaro e Orlando Gutiérrez-Boronat

Jair Bolsonaro e Marco Rubio (Photo: Reprodução/@marcorubio) Reprodução/@marcorubio

Jair Bolsonaro e o senador da extrema direita americana Marco Rubio.


Texto original em português do Brasil

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