As eleições na Áustria ocorridas no último domingo (15) tornaram Sebastian Kurz o primeiro-ministro mais jovem do mundo, com 31 anos, e líder do conservador Partido do Povo. Segundo analistas, existe alta probabilidade de uma aliança com a extrema-direita – que avança em toda a Europa.
Dos 24% dos votos obtidos em 2013, os conservadores subiram para 31%. Contudo, sem maioria no parlamento, o Partido do Povo terá que buscar alianças para governar. Segundo BBC, analistas indicam que um aliado natural seria o anti-imigração Partido da Liberdade, já que a aliança entre o partido de Kurz e os sociais-democratas, conhecida como “grande coligação”, se desfez há alguns meses.
Os motivos foram diversos desentendimentos, desde a reforma fiscal até às políticas de acolhimento aos refugiados; além disso, foram feitas denúncias judiciais entre os partidos, o que contribuiu para gerar o clima de desconfiança.
Ainda de acordo com a agência inglesa, o atual chefe de governo austríaco (chanceler), o líder social-democrata Christian Kern, pode perder sua posição após uma campanha marcada por uma série de escândalos, incluindo alegações de que seu assessor liderou uma campanha de difamação contra Kurz. Contudo, Kern afirmou no domingo (15) não possuir a menor intenção de deixar a liderança do partido. O “deslocamento” à direita foi visto como uma resposta ao sucesso do Partido da Liberdade, que por pouco não assumiu a presidência em dezembro, quando Norbert Hofer foi derrotado por Alexander Van der Bellen, líder do Partido Verde.
Desde a Segunda Guerra Mundial e até o momento, o poder na Áustria foi partilhado entre os dois grandes partidos (Partido Popular e Partido Social Democrata). Agora, ambos cedem espaço para o Partido da Liberdade, que subiu com 26% dos votos- por pouco não atingindo os sociais-democratas, que ficaram com 27%- marcando o retorno da extrema-direita no governo austríaco, após duas décadas afastada, e seu crescimento na Europa, junto com exemplos como a Alternativa para a Alemanha no país vizinho e a Frente Nacional na França.
“As eleições alemãs trouxeram o populismo de volta ao centro do debate e as austríacas vão reforçar a tendência”, disse Cas Mudde, especialista em política de extrema-direita da Universidade de Geórgia (EUA), em entrevista ao jornal português Público.
Segundo informações da BBC, o Partido da Liberdade foi fundado em 1955 por um ex-general nazista que fez parte da SS, organização paramilitar ligada ao partido nazista e a Adolf Hitler. O partido usa como emblema a flor de escovinha, que também serviu de símbolo do nazismo na década de 1930.
A possível aliança não seria nova. Entre 2000 e 2005, o partido extremista então liderado por Jörg Haider manteve uma coligação com o Partido Popular, levando à suspensão do direito de voto da Áustria no Conselho Europeu. Uma coalizão com o populista e direitista Partido da Liberdade seria controversa e poderia, inclusive, sofrer oposição dos demais países da União Europeia.
Estaria, portanto, cada vez menos clara a fronteira entre os partidos de centro-direita e de extrema-direita.
Por hora, segundo o jornal português, uma das certezas é que o próximo governo austríaco irá adotar posições mais duras em relação à imigração, juntando-se a países como a Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia, que têm bloqueado iniciativas europeias de realocação de requerentes de asilo.
O aumento do conservadorismo se mostrou, diante do resultado dessas eleições, popular entre eleitores austríacos; o fato seria uma reação ao grande influxo de imigrantes e refugiados do Oriente Médio e do norte da África. Aliás, o tema imigração foi a questão dominante na campanha eleitoral de Kurz, deslocando seu partido à direita durante a crise de refugiados na Europa, em 2015. Segundo uma análise da BBC, ele conquistou a simpatia de conservadores e eleitores de direita defendendo fechar as rotas de migração para a Europa, além de limitar o pagamento de benefícios a refugiados.
Estratégia e posição quanto a UE
Sebastain Kurz, além de ter sido apelidado de “Wunderwuzzi” (“garotão prodígio”, em tradução livre), foi comparado a outros jovens governantes, como Emmanuel Macron, na França.
Macron apresentou-se como rebelde, como alguém que vinha de fora do sistema político – apesar de ter sido conselheiro do Presidente François Hollande e também ministro da Economia. Assim como o presidente francês, Kurz criou um movimento de renovação ao seu redor, rebatizando o Partido do Povo ─ que está no poder há mais de 30 anos ─ como o “Novo Partido do Povo”.
Apesar das semelhanças quanto a estratégia eleitoral, uma coligação entre o Partido Popular de Kurz e o Partido da Liberdade apresentaria obstáculos para Macron e a primeira-ministra alemã Angela Merkel, que tentam negociações para reformar a zona euro e a política de asilo da União Europeia. Ambos os partidos austríacos são céticos em relação a uma maior integração da zona euro e a uma maior centralização de poderes em Bruxelas – previstas no projeto de Macron, que consiste em criar um Orçamento e um ministro das finanças comum para toda a zona euro.
Por Alessandra Monterastelli | Texto original em português do Brasil
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