Soneto de Carlos Eduardo da Cruz Luna
As cores da pobreza
Pretos como petróleo, mas sem ser,
d’ escravos revoltados oriundos,
sem a cor certa p’ra nos enternecer,
haitianos tão sós e tão imundos.
Parece que não há nada p’ra se ver,
pois até ne miséria há dois mundos:
um, em qu’os pobres se devem socorrer,
outro, em qu’ os pobres são vagabundos!
Triste mund’ em que nos é dado viver,
qu’ entre pobres distingu’ os que mais convém
a favor dum tom de pel’ a condizer!
A pobreza maior é a de quem tem
diante dos seus olhos gent’ a sofrer,
sem ver qu’a dor não olh’ a cor de ninguém!