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Quarta-feira, Julho 17, 2024

As donas de casa

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

As donas de casa são um enorme grupo, vivem na cidade ou vivem no campo. Muitas vezes não sabem que são «um grupo» porque vivem nas suas casas, sem grandes contactos com outros lugares. Muitas vezes não sabem a força que poderiam representar. Também, muitas vezes, são mulheres que se sentem isoladas, sem tempos livres, algo marginalizadas, inseguras, tristes.

As donas de casa, poderiam ser uma força impulsionadora de mudança, mas muitas vezes são mulheres apagadas, trabalhando muitíssimo sem a gratificação de se verem distinguidas no seu trabalho, que não é qualificado.

Frequentam maior número de consultas que os homens da mesma idade, tomam inúmeros remédios para «os nervos» e para dormir,  muitas vezes têm vergonha de reconhecer que o trabalho da casa, entre o marido e os filhos, as aborrece profundamente. Geralmente têm muitas dúvidas sobre como educar e ensinar os seus filhos que na escola aprendem coisas que lhes parecem estranhas e que, ainda na escola, adquirem conhecimentos sobre assuntos que elas próprias não se sentem capazes de discutir.

São mulheres muitas vezes cansadas e saturadas, que se sentam à noite, um bocado, frente a um televisor, que transmite novelas onde, ao menos,  podem sonhar. Mas sonhar os sonhos dos outros, pois apenas os outros parecem têm futuro risonho e romântico. Com muita frequência, as mulheres donas de casa têm problemas de comunicação com o marido, que vem lá de fora, do mundo exterior à casa, com outros interesses e problemas. Nem que seja apenas o futebol. Com muita frequência a conversa entre marido e mulher limita-se a uma triste e frustrante tentativa de exprimir sentimentos para os quais não adquiriram palavras.

A tristeza e a depressão, não confessadas, transformam o mundo da casa num mundo cinzento e frio. A sensação de mal-estar é vaga e traduz-se em dores de cabeça, dores nos ossos, dores que vagueiam por todo o corpo. Isto é, todo o corpo parece protestar contra aquilo que em palavras se não pode contar. Pensar tudo isto é difícil quando uma mulher se sente só e desencorajada. A dor de cabeça do fim de semana é tão típica do aborrecimento!

Que fazer? Como mudar? E, por exemplo, se houvesse mulheres de iniciativa, umas mais tímidas, outras mais corajosas, que fossem criando lugares e espaços para discutirem, em conjunto, estes problemas?

Ninguém fará, por nós, melhor do que o que cada um de nós pode fazer por si.

E se começássemos a reunir? A falar? A discutir? A rir? A participar? E a tentar reconhecer o que realmente sentimos, em vez de querermos mostrar uma felicidade que nunca sentimos?

Ilustração de Beatriz Lamas Oliveira


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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