Uma apreciação resumida aos sufrágios ocorridos no dia 27 de Outubro naquele país sul-americano e possíveis implicações futuras.
Foram eleitas pelos colombianos as autoridades territoriais, destacando-se, entre outros cargos locais e regionais, os 32 Governadores dos Departamentos e 1001 Presidentes de Câmara (Alcalde), por um universo de 36 milhões e meio de potenciais eleitores, dos quais cerca de 60 % exerceram o seu direito de voto. Os agora eleitos irão governar durante o quadriénio de 2020-23, tomando posse no próximo dia 1 de Janeiro.
Com o acto de domingo passado cumpriu-se um ciclo eleitoral, constituído pelas Legislativas, em Março de 2018, e Presidenciais, em Maio e Junho de 2018, após a assinatura do Acordo de Paz (AP) entre o Governo e as entretanto extintas FARC-EP.
O período antes das eleições ficou manchado por vários episódios de violência. Vários candidatos de todos os partidos ou coligações no poder ou na oposição foram ameaçados, atacados ou mesmo mortos. A estes actos adicionam-se os que vêm tendo como alvos os líderes sociais e os ex-guerrilheiros das FARC-EP. Apesar de alguns incidentes, o decurso do acto eleitoral foi considerado como um dos mais pacíficos, deste tipo de eleições, nos últimos anos.
Em termos gerais, venceram as coligações locais, algumas fortemente ligadas aos clãs regionais, em detrimento dos partidos nacionais.
Um dos principais cargos que foi a votos foi o da Alcaldía Mayor de Bogotá, pois é considerado o segundo cargo mais importante do país, antecedido em importância apenas pela Presidência da República.
Venceu Claudia López, candidata de centro-esquerda, apoiada pela Aliança Verde e pelo Polo Democrático. É a primeira vez que uma mulher é eleita pelo voto popular para desempenhar tal cargo. É também de assinalar, como a própria faz questão de sublinhar, que é homossexual, ecologista, apoiante do AP e frontal adversária do Presidente Iván Duque. O principal mote da sua campanha foi a tolerância zero à corrupção.
De referir, ainda, que o partido político FARC, nascido das desmobilizadas guerrilhas das FARC-EP, participou pela primeira vez em eleições deste tipo, tendo concorrido com mais de 300 candidatos sob a sua bandeira ou em coligação a diversos cargos locais e regionais. Com o apoio da Colombia Humana (esquerda), um seu ex-combatente foi eleito como Alcalde de Turbaco, uma localidade do departamento de Bolívar.
Um dos grandes derrotados da jornada eleitoral foi o Centro Democrático (CD), de direita, construído à volta do ex-Presidente e agora Senador Álvaro Uribe, e ao qual o actual Presidente Iván Duque pertence. A derrota é ainda mais embaraçosa visto terem perdido a corrida ao lugar de Governador do departamento de Antioquia e da Alcaldía da sua capital, Medellín, bastiões do Uribismo.
A derrota do CD terá, certamente, consequências directas na governação. Grande parte dos agora eleitos são a favor do AP e contra as políticas do actual Governo, que tem feito, no mínimo, o que pode para perturbar a sua implementação. Para mais, o Presidente Iván Duque encontra-se com baixos níveis de aprovação e o seu mentor, Álvaro Uribe, está a braços com um caso judicial que não augura-lhe nada de bom.
Estas eleições também poderão ter implicações nas próximas Presidenciais, a disputar em 2022 e às quais o actual incumbente não pode concorrer, visto os partidos apoiarem-se nas máquinas locais e regionais para fazerem campanha. Outro aspecto a apontar, é que quem agora foi eleito poderá usar o cargo como plataforma para promover as suas aspirações a Presidente. De entre estes, ganha particular destaque Claudia López, ela que foi candidata à Vice-Presidência em 2018, donde deve-se acompanhar com atenção o seu desempenho como Alcaldesa Mayor de Bogotá.
Resta saber como irão reagir os poderes tradicionais a estes desfechos, principalmente onde eles foram-lhes adversos. Serão capazes de aceitar os resultados eleitorais ou, pelo contrário, optarão por desrespeitá-los, através do recurso a práticas enraízas, tais como a corrupção, a intimidação e a violência? Pelo bem de todos os colombianos, esperemos que sejam finalmente capazes de admitir que uma sociedade verdadeiramente democrática, livre, justa e, sobretudo, pacífica, só pode construir-se sobre o estrito respeito da vontade popular expressa nas urnas.
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