Brasileiros, africanos dos PALOP e cidadãos da União Europeia podem votar nas eleições autárquicas. Nas legislativas e nas presidenciais não podem, a não ser que tenham obtido a cidadania portuguesa. Mas será que as eleições em Portugal suscitam o interesse deles? Foi isso que fomos descobrir.
A cerca de 30 quilómetros a norte de Lisboa há uma numerosa comunidade de imigrantes. São sobretudo brasileiros e ucranianos, sobreviventes da debandada provocada pela crise, após a vaga de imigração no início do século. Vieram trabalhar na construção civil, na agricultura, nas várias empresas de transporte de mercadorias e matadouros existentes na região.
Leonardo é natural de Goiânia e está em Portugal desde 2002. Júlio César é do Espírito Santo e está em território lusitano há oito anos. Ambos confessam uma enorme desconfiança em relação aos políticos. No Brasil a imagem da classe política é muito negativa, devido aos casos de corrupção. Naquele país o voto é obrigatório e mesmo os imigrantes podem fazê-lo no consulado. Leonardo e Júlio César nunca o fizeram e preferem pagar uma coima.
Em Portugal podem votar nas eleições autárquicas, mas não se deram ao trabalho de conhecer os candidatos ou perceber como funciona o processo. Para as legislativas também não quiseram obter muita informação, dado que não estão recenseados e o descrédito que sentem quanto aos políticos não os motiva. Leonardo está à espera do cartão de cidadão e depois de naturalizado admite pensar em votar. Júlio César está igualmente a tratar da naturalização, mas como em Portugal o voto não é obrigatório pondera abster-se, apesar de considerar que os políticos portugueses são mais honestos que os brasileiros.
Gerson, outro brasileiro radicado na região Oeste, tem outra opinião. Informou-se sobre a organização dos órgãos municipais portugueses e achou que, se paga impostos e reside em Portugal, também devia exercer o direito de votar. Defende que devia poder repetir o gesto nas legislativas, o que assegura ir fazer quando for naturalizado.
Os ucranianos com autorização de residência não podem votar em nenhuma eleição. Ioanna, há 15 anos em Portugal, entende que o voto é um dever de todos os cidadãos. Em Portugal, contudo, nunca ligou muito aos partidos políticos, por não poder participar na eleição. Está um pouco desiludida com os do seu país, mas não é por isso que deixa de ir cumprir o seu dever à embaixada.
Por isso, garante, se fosse portuguesa ia votar, porque é uma questão de respeito por uma nação que a acolheu e que também já considera um pouco sua. O marido, por exemplo, está naturalizado e só não foi votar porque esteve ausente do país em trabalho. Dentro da comunidade ucraniana residente na região, os que conhece e estão naturalizados foram depositar o seu voto nas urnas.
Se a abstenção é elevada em Portugal, não é com certeza por culpa dos imigrantes ucranianos, nem por pelo menos uma boa parte dos brasileiros.
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