Baixos salários, sobre exploração dos trabalhadores, produtos de média-baixa e de baixa tecnologia e conhecimento, são os elementos que sustentam o modelo de “desenvolvimento” da economia portuguesa tornando-a extremamente frágil, dependente e muito vulnerável a crises externas e de saúde como a causada pela covid.
Neste estudo mostro, utilizando apenas dados oficiais, que os custos da mão de obra em Portugal, fundamentalmente remunerações dos trabalhadores, correspondem a cerca de metade dos custos médios dos países da União Europeia, que o peso dos produtos de alta e média tecnologia quer na produção nacional quer nas exportações portuguesas continua ser muito reduzido, sendo muito inferior à dos países da U.E., e que isso resulta fundamentalmente do stock de capital (investimento) por empregado ser praticamente metade do dos países das Zona Euro a que Portugal também pertence, sendo isto determinado pelo baixíssimo investimento privado e público realizado em Portugal que, em muitos anos, mesmo com o atual governo, não compensou o que desapareceu pelo uso e pela obsolescência.
Tudo isto determina que a economia portuguesa esteja extremamente vulnerável a crises externas e a graves crises de saúde pública como é a causada pelo COVID. 10 anos após a entrada da “troika” em Portugal pouco se fez para evitar uma situação semelhante.
Estudo
O modelo de “desenvolvimento” de Portugal continua a basear-se em baixos salários e na sobre exploração dos trabalhadores, e também em produtos de média-baixa e de baixa tecnologia e conhecimento, o que torna a economia portuguesa extremamente frágil, dependente e muito vulnerável a crises externas e de saúde como a causada pela covid
Um dos aspetos que a grave crise de saúde publica, social e económica que enfrenta neste momento o país causado pelo COVID tornou visível foi a extrema fragilidade, dependência e vulnerabilidade da economia portuguesa o que determinou que os efeitos da crise estejam a ser devastadores, o que torna a recuperação muito mais difícil e demorada. E isto porque o modelo de “desenvolvimento” que continua a imperar em Portugal assenta fundamentalmente em baixos salários e em produtos de média-baixa e baixa intensidade tecnológica e de conhecimento. O gráfico 1, mostra os custos da mão obra em euros em Portugal, na União Europeia e na Zona Euro.
Gráfico 1 – Custo hora da mão de obra na União Europeia (colunas a azul) na Zona Euro (colunas a laranja) e em Portugal (colunas a cinzento) – Eurostat
Em 2020, por ex., o custo hora da mão de obra em Portugal (15,7€) era menos de metade do custo hora da Zona Euro (32,3€) e pouco acima de metade da União Europeia (28,5€). Mas o gráfico 2, torna ainda mais clara a situação de que o modelo de “desenvolvimento” português continua a basear-se fundamentalmente em baixos salários e na sobre explorações dos trabalhadores portugueses, pois mostra com clareza quão são mais elevados os custos de mão obra na U.E..
Gráfico 2 – Custo da mão de obra na União Europeia (colunas a azul) e na Zona Euro (colunas a laranja) é muito mais elevado do que em Portugal – Em % é superior entre 81,5% e 105,7% em 2020 – Eurostat
Em 2020, o custo hora da mão obra na Zona Euro era superior em 105,7% ao de Portugal, e o da Zona Euro era 81,5% mais elevado do que no nosso país. Portugal continua a ser um maná para as empresas, nomeadamente as estrangeiras que pagam salários de países não desenvolvidos. Tudo isto mostra bem a sobre exploração a que estão sujeitos os trabalhadores portugueses.
O peso reduzido do emprego e das exportações de produtos de alta e média tecnologia e conhecimento em Portugal
O quadro 1 revela que no nosso país os produtos de alta e média tecnologia têm um peso muito reduzido na estrutura produtiva e nas exportações, que é muito inferior ao que se verifica na U.E.
Quadro 1 – O peso percentual dos produtos de alta e média tecnologia e conhecimento quer na estrutura das exportações portuguesas que na estrutura produtiva do país
Em 2018, a percentagem de produtos de alta tecnologia nas exportações totais portuguesas representou apenas 4%, enquanto a média dos países da União Europeia foi de 17,9%, ou seja, 4,5 vezes mais. O emprego em Portugal em setores de alta e média tecnologia representava, em 2019, apenas 3,3% do emprego total, enquanto na União Europeia correspondia a 6,2%.
Estes valores revelam bem a fragilidade da economia portuguesa já que quer a estrutura das exportações portuguesas quer a estrutura produtiva do nosso país continua a assentar fundamentalmente em produtos de média-baixa e de baixa tecnologia e conhecimento, o que determina que a economia portuguesa, por um lado, seja extremamente vulnerável a crises e à concorrência externa e, por outro lado, esteja muito dependente de outros países em produtos de média-alta e alta tecnologia.
Tudo isto é também uma consequência do baixíssimo investimento quer privado quer público feito no nosso país como os dados seguintes claramente mostram
Gráfico 3 – Stock de Capital por empregado em Portugal em % do Stock de Capital por empregado na União Europeia (colinas a azul) e na Zona Euro (colunas a vermelho) – Eurostat
Em 2020, o stock de capital (investimento) por empregado era apenas 57,7% da média dos países da União Europeia e 50,8% dos da Zona Euro. E a previsão para 2021 é de agravamento desta relação. O próprio Estado dá o mau exemplo. Entre 2012 e 2020, o Investimento publico foi apenas de 34.012 milhões €, enquanto o Consumo de Capital Fixo público atingiu 47.300 milhões €. Isto significa que o novo investimento público foi inferior ao que se desgastou ou desapareceu pelo uso e pela obsolescência em 13.288 milhões €.
Assim, é evidente que a produtividade do trabalho será baixa, e nunca teremos uma economia e um país desenvolvido. A obsessão do défice está a destruir o país, pois sem investimento não há nem uma economia forte nem progresso. 10 anos após a entrada da “troika”, o governo e as entidades patronais parecem nada ter aprendido para evitar a repetição da mesma situação.
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