Os Estados Unidos, pressionados por Israel, deixaram o acordo nuclear multilateral com o Irão e irão restabelecer as sanções econômicas contra o país persa. A União Europeia, se mantiver o acordo (o que já afirmou que irá fazer) poderá sofrer retaliações dos EUA. O Irão, por sua vez, quer garantias da Europa.
Apesar de somente os EUA terem deixado o acordo com o Irão, a maioria das empresas que terão que cancelar seus negócios com o Irão é Europa, sob risco de sofrer sanções americanas. As exportações da União Europeia para o Irão ano passado foram de R$ 12,8 bilhões, 30% a mais do que o ano anterior. Das empresas americanas, a Boeing é a que tinha maiores contratos de exportação para o Irão.
Ou seja, para que a UE possa preservar o acordo nuclear com o Irão, precisam livrar as empresas do continente das sanções que foram reimpostas na terça-feira (8) pelo presidente americano, Donald Trump. As sanções americanas dão prazos de 90 e 180 dias — dependendo do setor — para empresas encerrarem seus negócios com o Irão, e afetam as companhias europeias porque elas também precisam preservar seus investimentos nos Estados Unidos e não conseguem operar fora do sistema sistema financeiro americano, segundo o jornal O Globo.
Alaeddin Boroujerdi, presidente da Comissão de Segurança Nacional e Relações Externas do Parlamento do Irão, pediu aos Estados europeus uma “prova histórica” de resistência às “pressões” oriundas dos EUA, que se materialize em mais do que uma mera “folha de papel”. “Precisamos de garantias práticas, de algo de concreto. Se a União Europeia não resistir à pressão norte-americana, não há forma de nos mantermos dentro do acordo”, afirmou, segundo o jornal português Publico.
Para Boroujerdi, o Plano Abrangente de Ação Conjunta– ratificado em 2015 por todos os países com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mais a Alemanha – é do interesse dos países europeus e das empresas europeias que iniciaram negócios no Irão, e a sua descontinuidade pode permitir uma maior influência de outros atores no país: o encerramento das portas da Europa pode abrir portas à Rússia e à China”.
Chefes da diplomacia da França, Alemanha e Reino Unido — cossignatários do acordo em 2015 — se reunirão na próxima segunda-feira (14) com o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, “para considerar toda a situação” e dar garantias de que protegerão o pacto dos bloqueios financeiros impostos por Washington.
Garantias essas, inclusive, exigidas pelo Iatolá Ali Khamenei, que pediu na quarta (9) “garantias reais” dos países europeus para continuar no acordo nuclear de 2015. Em pronunciamento ele se dirigiu a defensores do acordo no Irão, como o presidente Hassan Rohani, para dizer que “se não houver uma garantia definitiva” não poderão seguir no acordo. Em resposta aos Estados Unidos, o Irã acusou o país de nunca cumprir com sua palavra.
Israel, aliado histórico dos Estados Unidos, se incomoda com o Irão. O país, que antes era a única potência do Oriente Médio, não gosta da ideia de estar perdendo sua influência para o Irã, que agora também é uma potência, com força muito próxima a da Israel. Este último tem forte lobby no Congresso dos EUA, e já vinha pressionando os norte-americanos para deixarem o acordo na tentativa de perjudicar o Irão pelas via econômica, ou seja, por meio das sanções que agora foram restabelecidas.
Segundo um relatório da vistoria relizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e publicada no dia 5 de março desse ano, foi comprovado que o Irão cumpriu integralmente seus compromissos listados no acordo e portanto não vem desenvolvendo armas nucleares.
Fica evidente que a maior preocupação dos Estados Unidos e de Israel não era a possíbilidade do Irão estar projetando armas nucleares- até porque com a anulação total do pacto o Irã poderia voltara construi-las, e o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita (aliada dos EUA e de Israel), Adel al-Jubeir, disse que seu país vai desenvolver suas próprias armas nucleares, caso o Irão também o faça. Essa última afirmação, por motivos obvios, não sofreu retaliações dos EUA, muito menos ameaças.
Pronunciamentos
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse ao presidente iraniano que ela apoia a manutenção do acordo nuclear, após a retirada dos Estados Unidos, sob a condição de que Teerã cumpra sua parte no pacto, segundo informa a Reuters. Em um telefonema a Hassan Rouhani, Merkel pediu conversas em formato mais abrangente sobre o programa de mísseis balísticos do Irã e suas ações regionais —incluindo na Síria e Iêmen, disse seu gabinete.
Apesar disso, a connservadora condenou os ataques durante a noite por forças iranianas a postos militares de Israel nas Colinas de Golã (ocupadas ilegalmente pelo país desde 1967), ignorando que no dia anterior foram os israelenses os primeiros a atacarem a Síria, logo após o pronunciamento de Trump. A chanceler também pediu que o Irã contribua para reduzir a escalada de violência na região, ainda que, nos últimos meses, Israel tenha adotado um forte tom de ameaça em relação ao país persa e à Síria (sem contar a escalada de violência do exército israelense contra os palestinos na Faixa de Gaza).
Geng Shuang, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse que “todas as partes atuem de forma responsável para retornar o mais rápido possível ao respeito a um acordo que contribui para preservar a paz no Oriente Médio”.
Vladimir Putin, por sua vez, teve conversas com o premiê israelense Netanyahu em Moscou durante comemorações do Dia da Vitória dos soviéticos sobre os nazistas. Putin tenta compatibilizar boas relações com israelenses e iranianos.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado
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