As Nuvens de Hamburgo do Pedro Cipriano é uma novela de 98 páginas publicado pela Flybooks. O Pedro é um criador da Ficção Especulativa em Portugal, a que dá voz através da Editorial Divergência. Como autor, conta muito a sua formação como cientista e físico nuclear de 32 anos, que trabalhou na Alemanha e na Croácia durante vários anos; nesta novela aproveitou da ciência Macrofísica os especulativos “buracos de minhoca” que ligam passado, presente e futuro, como no filme Interstellar de Christopher Nolan, para nos brindar com uma obra estimulante.
Situada em Hamburgo, cuja história e locais Pedro conheceu bem de perto, a protagonista de As Nuvens é Marta, um heterónimo dos estudantes e doutorandos ERASMUS que nasceram num Portugal só Europeu, que sofreram de conflitos de geração com os pais e foram estudar para o que era antes o “estrangeiro”, mas agora é apenas um pouco mais longe do que a terra natal.
Marta tem um pequeno círculo de amigos, Eleni e dois estudantes espanhóis, Miguel e José. Marta prefere os jogos de computador e fica de fora de um triângulo amoroso entre os espanhóis e a sua confidente grega, até ser surpreendida por uma realidade alternativa que é o fio condutor da novela.
Sempre que se aproxima de locais marcantes em Hamburgo, entra no tempo da II Guerra Mundial. O que inicialmente lhe parece uma alucinação vai-se tornando cada vez mais verdade inquietante até ser ferida por um caça britânico Spitfire que desce dos céus. Em particular, há um rosto de um oficial alemão que a persegue e sobre o qual quer descobrir a verdade.
Incapaz de encontrar em si mesma uma explicação para tais experiências alternativas, confidencia-as à amiga Eleni e tal como na famosa série Outlander, da Netflix, vê-se obrigada a viver entre dois temos e dois espaços. Confrontada com as brutalidades da época Nazi, e testemunha do Holocausto, Marta tem de se definir a si mesma e à sua geração como quem é e para onde quer ir.
A escrita de Pedro Cipriano é fluída e com um vocabulário simples para descrever um problema irresolúvel. O autor não se perde em explicações, científicas nem de outra natureza, sobre eventos paranormais. No ponto de vista do estilo, o livro recomenda-se pelos diálogos realistas, que são também um retrato de geração e por um ritmo rápido, com um desenlace em que se adivinha uma necessidade de continuação desta narrativa por um jovem autor prometedor e representativo do Portugal futuro.
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