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João de Sousa

Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

As palavras que não são ditas, mas que se leem

É comum depararmo-nos com salas meio cheias de gente a ouvir pessoas a falar sobre assuntos que mal dominam, mas sobre cujo tema tecem as mais variadas considerações como se de sumidades na matéria fossem.

Assim como também é comum estarem na plateia inúmeras pessoas que falariam sobre o assunto com maior propriedade e autoridade do que o orador. Provavelmente com maior capacidade de síntese e de objetividade.

Talvez por isso seja, também comum, que uma parte significativa da assistência saiba de antemão aonde é que o orador pretende chegar mesmo que esse o não consiga. Seja por insuficiência formativa ou informativa.

Tão só porque, só adere a convocatória para um determinado evento quem nesse evento está interessado.

Ora, diz o bom senso, que só está interessado no evento em causa quem se identifica com a matéria a abordar seja em que perspetiva ou contexto for:

  •  Ou porque lhe diga diretamente respeito;
  • Ou porque a matéria a abordar é do seu interesse pessoal, profissional ou outro;
  • Ou porque se sinta direta ou indiretamente envolvido nos efeitos ou nas consequências do assunto a dissecar, quiçá, discutir;
  • Entre outros. Sendo que, a condição primeira, é a do interesse por envolvimento pessoal, social ou familiar.

Serve esta nota de registo para salientar da rotina diária de cada um a propensão para este tipo de atividade que visa trazer valor acrescentado a essa rotina e, dentro do possível, ajuda a soluções tantas vezes procuradas e raramente encontradas. Seja nos maus momentos como nos bons momentos. Embora, como é natural, este modelo de “partilha” social vise a melhoria daquilo que corre menos bem.

Neste contexto, as palavras que não são ditas, mas que se leem, acabam por colmatar falha grave de comunicação entre o orador e a assistência por ajustamento pessoal da circunstância à realidade individual.

Uma condição imprescindível para que o evento surta o efeito para que foi delineado. O que a não acontecer defrauda a expectativa da assistência.

Este tema é um tema de alguma complexidade por envolver diversos personagens. Simplesmente, os erros cometidos tem sido tantos que já de nada serve tentar “tapar o Sol com uma peneira”.

Desde logo a hora e os dias da sua realização. A hora que em regra é em horário laboral e os dias que por norma são a meio da semana.

Quando acontece serem ao fim de semana é óbvio que a parte da manhã de Sábado e Domingo são sempre más escolhas tendo em atenção os afazeres domésticos e o merecido descanso semanal também.

Esta metodologia tem sido prática corrente em setores de vital importância como o são a área social; a saúde; a educação e outros.

Na área político partidária as sessões são melhor preparadas e os dias melhor escolhidos com preferência para as sextas-feiras e sábados a partir das vinte e uma horas.

Mas, em ambos os casos, a apetência para o discurso é viral e a plateia cansa-se e desmobiliza para futura iniciativa. Talvez por isso, a assistência média seja demasiado baixa e na maioria dos eventos recorram os seus organizadores a técnicas de mobilização não recomendáveis ao “arrumarem” as salas com públicos de outras sensibilidades e por isso, sem o mínimo interesse no evento, de que resulta participação nula. Pelo menos do publico alvo. Porque intervenções de algum cariz técnico “questionador” do discurso transversal aos diversos oradores vão acontecendo pelo menos para “salvar” o impacto do evento conferindo-lhe uma tónica de participação que não teve.

A distribuição de tempo de intervenção entre as partes, intervenientes e publico, é abissal, com predomínio quase total para os chamados convidados, condicionante que retira o interesse participativo e de informação que a assistência verdadeiramente interessada espera.

Daí que as palavras que não são ditas assumam importância fulcral porque são lidas em permanência por todos aqueles que vivem as realidades conjunturais, na primeira pessoa, e que tantas vezes são, de forma aligeirada, motivo de palestras tão chatas que já não interessam a ninguém!

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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