Para milhares de espanhóis, o início das mini-férias da Páscoa foi passado na Ponte do Guadiana, à espera da sua vez para pagar as portagens na Via do Infante.
Foi um processo lento, irritante, que deve ter feito com que muitos deles pensem duas ou três vezes antes de decidirem vir novamente ao nosso país gastar dinheiro e, dessa forma, ajudar o sector turístico a, este ano, ultrapassar mais um recorde de receitas e atingir os 12 mil milhões de euros, objectivo definido pelo actual ministro da Economia.
Ao mesmo tempo, um pequeno grupo de portugueses andava por ali, em marcha lenta, em acção de protesto contra a manutenção de portagens na A22, mais conhecida no sul do país como Via do Infante.
Tratava-se de mais uma iniciativa promovida pela Comissão de Utentes daquela via de comunicação, que, ao longo dos últimos anos, tem vindo a travar uma luta, até agora sem sucesso, pelo fim das portagens.
A subida do PS ao Governo trouxe esperanças a alguns algarvios de que isso iria finalmente acontecer. Provavelmente, aos algarvios que não acompanharam a campanha eleitoral porque, se o tivessem feito, saberiam que não estava nos planos do PS acabar com as portagens. O que o seu cabeça-de-lista, e actual secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, foi dizendo é que havia condições para, de imediato, se baixar o respectivo valor em 50%.
Mas, nem isso aconteceu até agora. Está tudo na mesma. Aliás, está pior.
É que, entretanto, avançaram, finalmente, algumas obras de requalificação da Estrada Nacional (EN) 125, a uma velocidade equivalente à que os automobilistas são obrigados, em muitas alturas, a nela conduzirem: devagar, devagarinho e parados.
Sem obras, e com a ‘fuga’ de muitos condutores para a EN 125, para não pagarem portagens na Via do Infante, já era um suplício andar naquela estrada. Com as obras, tornou-se praticamente impossível.
Os defensores do fim das portagens alegam que boa parte da Via do Infante foi construída com fundos comunitários, pelo que não constituiu um encargo para os cofres nacionais. Por outro lado, o sistema de portagens é confuso para todos e, em especial, para os turistas, situação que causa prejuízos ao nível do principal sector económico algarvio.
Mas o mais grave é o aumento da sinistralidade na região, pelo facto de haver mais tráfego noutras vias, em especial, na EN 125.
Segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, em 2015, registaram-se 9.490 acidentes na região, um aumento acentuado em relação aos 8.338 de 2014. Como consequência, o número de mortos também aumentou, passando de 29 para 36, uma tendência que se estende aos feridos graves: de 134, em 2014, para 168, no ano passado.
A coisa chegou a um ponto em que até os deputados socialistas se viram na contingência de votarem favoravelmente um projecto de resolução do PCP, através do qual pedem ao Governo que faça o que for preciso para que as obras sejam rapidamente concluídas.
Depois de terem ajudado a aprovar o documento, os socialistas sentiram mesmo a necessidade de lançarem, de imediato, um comunicado em que colhiam os louros pela iniciativa, a qual davam a entender ser da sua autoria.
Uma atitude que não caiu bem junto do deputado do Bloco de Esquerda eleito pela região, João Vasconcelos, um dos dinamizadores da Comissão de Utentes da Via do Infante, que qualificou como “uma tristeza e uma vergonha” a atitude socialista.
O eleito comunista Paulo Sá, primeiro signatário do projecto de resolução aprovado, optou para não reagir, mas a verdade é que as questões relacionadas com as vias de comunicação no Algarve estão a abrir brechas, entre o PS e os outros dois partidos de esquerda que, a nível nacional, apoiam o seu governo.
Um dos momentos de maior tensão deu-se aquando da rejeição da proposta do Bloco de isenção das portagens da Via do Infante. Os deputados do PS juntaram-se aos do PSD para rejeitarem o documento, enquanto que os do CDS se abstiveram. Também nesta situação, o deputado bloquista não se conteve e veio dizer que a opção socialista tinha sido “vergonhosa”.
Da parte do PS, o deputado António Eusébio (deputado e líder regional) justificou-a com “os constrangimentos que se colocam às finanças públicas portuguesas” e, em alternativa, prometeu uma “diminuição gradual do valor”.