Todo ano a história se repete: 15 de outubro é coberto de reverências e homenagens àqueles que encarnam e personificam a Educação por excelência, as professoras e os professores. A ordem do gênero não é aleatória, reconhece a característica da ampla maioria da categoria profissional. Mas não nos detenhamos nisso, muito embora numa sociedade de classes permeada pelo patriarcalismo e pela androcracia, não seja esta uma questão menor.
Vamos pela totalidade, pelo viés de classe, refletir sobre a contradição entre aquilo que se reputa e o que se pratica em relação ao ofício de mestre, observando a distância e a desconexão de ambas. Não se ouvirá discurso contrário aos professores – exceto talvez aqueles proferidos pelo Presidente, seu Ministro da Educação e seguidores fanáticos e desmiolados – e todos saudarão o trabalho abnegado dos educadores, lembrando de seus baixos salários, de suas condições precárias para o ensino, de sua máxima importância para o presente e futuro do Povo e da Nação.
As homenagens virão de todos os lados. Pronunciamentos, artigos, vídeos, faixas, prêmios, festas, mimos, postagens. Porém, quando se trata objetivamente de acolher as demandas e reivindicações do professorado, a coisa muda de figura. A realidade se mostra diferente e alguns segmentos em particular – políticos neoliberais e fascistas, empresariado tacanho, mídia venial, líderes religiosos mal intencionados – advogam a desvalorização, o sucateamento, a negação de direitos, a interferência curricular, fenômenos e processos que não se limitam aos educadores em si, posto que suas consequências e mazelas se desdobram para alunos, famílias e sociedade.
O quadro é desafiador, nos consome energias e esperanças, nos tira noites de sono, nos obriga a multiplicar as horas de trabalho, nos empobrece, também nos deixa doentes, mas incrivelmente professoras e professores são como a vara que verga, mas não quebra. Nossa consciência pedagógica, política, ética e profissional não admite outra coisa senão uma educação como prática de liberdade, para vencer opressões e construir identidades, autonomias e transformações.
Seguirão as batalhas pelos justos salários, por uma carreira atrativa e decente, por formação contínua, por concurso público, por atenção à saúde, por um projeto educacional crítico, coletivo, emancipador e radicalmente ligado aos interesses populares. Como cravou o poeta “nada do contra a corrente só pra exercitar todo músculo que sente”, as professoras e professores do Brasil fazem desse 15 de Outubro – especial, visto que comemorarmos o centenário de nascimento do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire – um dia de lutas bravas, “pero sin perder lá ternura, jamás”.
Texto em português do Brasil