Livro Poder e Dinheiro passa a limpo o olhar do pontífice sobre a economia.
Nenhum pontífice, na milenar história da Igreja Católica, dedicou tanta atenção ao movimento sindical quanto o Papa Francisco. Em junho de 2017, num encontro com sindicalistas no Vaticano, Jorge Bergoglio declarou: “O trabalho é a forma mais comum de cooperação que a humanidade gerou”. Defendeu, ainda, uma Previdência Social justa: “As aposentadorias de ouro são uma ofensa ao trabalho, assim como as de baixa renda, porque fazem com que as desigualdades do tempo de trabalho se tornem perenes”.
Mas nada surpreendeu mais que sua enfática defesa do papel do sindicalismo para enfrentar as desigualdades. Segundo Francisco, os sindicatos devem lutar, sobretudo, na periferia das cidades, “nos lugares onde não há direitos”. Diz o papa: “Não há uma boa sociedade sem um bom sindicato. E não há um bom sindicato que não renasça todos os dias nas periferias, que não transforme as pedras descartadas da economia em pedras angulares. Sindicato é uma bela palavra que provém do grego syn-dike, isto é, ‘justiça juntos’. Não há justiça se não se está com os excluídos.”
Ao contrário de João Paulo II e Bento 16 – seus antecessores de viés conservador e até reacionário, abertamente anticomunistas –, Francisco não esconde a simpatia por partidos e lideranças de esquerda. É na sua visão sobre a economia que ficam mais evidentes as críticas de Bergoglio ao capitalismo em geral e à globalização financeira em particular.
Essas opiniões são detalhadas no livro Poder e Dinheiro – A Justiça Social Segundo Bergoglio. Escrito pelo jornalista Michele Zanzucchi e lançado em 2018, a publicação tenta passar a limpo “o olhar do Papa sobre a economia”. No prefácio, o próprio Francisco diz que, com o livro, espera “conscientizar e responsabilizar, favorecendo processos de justiça e equidade”.
“Primeiro como um simples cristão, depois como religioso e sacerdote, e então como Papa, considero que as questões sociais e econômicas não podem ser estranhas à mensagem do Evangelho”, diz o pontífice. “Procuro colocar-me na escuta dos atores presentes no cenário mundial, dando voz, em particular, aos pobres, aos descartados, aos que sofrem.”
Em Poder e Dinheiro, emerge um líder religioso que combate “o paradoxo da economia globalizada”. É uma economia que “poderia alimentar, tratar e acomodar todas as pessoas que povoam nossa casa comum – mas que concentra nas mãos de bem poucas pessoas a mesma riqueza que é a prerrogativa de cerca de metade da população mundial”.
Conforme Bergoglio, a reação popular se espalha, cabendo à Igreja apoiar os “tantíssimos, tantos homens e mulheres de todas as idades e latitudes” que estão hoje “‘alistados’ em um desarmado ‘exército do bem’”. Nem por isso deve haver – segundo o papa – relações de submissão. “A Igreja não pode permanecer em silêncio diante da injustiça e do sofrimento. Tem de colaborar com os homens e mulheres que pacificamente dizem ‘não’ à injustiça”, diz Francisco.
Se estamos juntos, unidos em seu nome, o Senhor está no meio de nós segundo a sua promessa – portanto, está conosco também no meio do mundo, nas fábricas, nas empresas e nos bancos, como em casas, nas favelas e nos campos de refugiados. Nós podemos, devemos ter esperança”.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado