A Associação Cultural Recreativa e Desportiva do Furadouro (ACRDF), no concelho de Torres Vedras, tem em funcionamento desde Setembro do ano passado o Projecto Saúd’ouro, um programa de promoção de estilos de vida saudáveis na comunidade local.
Trata-se de uma ideia inovadora, pelas suas características e por se realizar numa pequena aldeia da União de Freguesias de Dois Portos e Runa. O Furadouro beneficia do facto de ter, entre os seus naturais e residentes, vários profissionais de saúde, como é o caso da coordenadora do projecto, Helga Rafael Henriques, enfermeira e professora universitária na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.
O Projecto Saúd’ouro dirige-se a todas as pessoas jovens adultas que desejem adquirir ou manter um estilo de vida saudável e que residam na freguesia ou áreas limítrofes.
Pretende criar e avaliar uma intervenção multidisciplinar sistematizada e individualizada de reeducação de hábitos de vida saudáveis na comunidade, reduzindo os factores de risco ao desenvolvimento de doenças crónicas não transmissíveis. Assenta no princípio da literacia em saúde e do envelhecimento saudável, com ênfase no autocuidado”.
Melhor saúde da população
Não é a primeira vez que a ACRDF desenvolve este tipo de iniciativa visando a melhoria dos estilos de vida dos habitantes. Aproveitando essa circunstância de ter profissionais de saúde como residentes, tem já alguma tradição no desenvolvimento destas acções.
É o caso do programa +Saúde, desenvolvido entre 2005 e 2011, com o objectivo de sensibilizar a população da freguesia para os principais factores de risco ao desenvolvimento de doenças crónicas não transmissíveis.
Segundo Helga Rafael Henriques, a finalidade destas acções é recolher informação sobre os participantes, tratar os dados recolhidos e depois encetar medidas para melhorar a situação. O panorama registado antes da implementação do +Saúde era preocupante. De acordo com dados de 2010, dos 122 idosos rastreados entre a comunidade do Furadouro, 40 por cento tinham hábitos de sedentarismo, 66 por cento tinham o perímetro abdominal aumentado, 65 por cento tinham hipertensão, 58 por cento com dislipidémia (colesterol e triglicéridos altos) e 15 por cento com diabetes. Os dados mostravam ainda um predomínio de dietas ricas em hidratos de carbono, gorduras saturadas e pobre em vegetais.
São factores de risco comportamentais que se enquadram “no perfil epidemiológico nacional e validou a necessidade de uma intervenção junto da população no sentido de melhorar os hábitos de vida”, explica a coordenação do projecto.
As pessoas que integram o Programa Saúd’ouro são alvo de uma intervenção individualizada, onde a sua participação e envolvimento são determinantes. A intervenção decorre durante oito meses e é suportada em quatro grandes pilares: reeducação alimentar, exercício físico, vigilância de saúde e educação para a saúde.
no perfil epidemiológico nacional e validou a necessidade de uma intervenção junto da população no sentido de melhorar os hábitos de vida”
Cada participante é alvo de uma avaliação inicial e final de saúde abrangentes (consultas médica e de enfermagem) e de uma monitorização de vários indicadores de saúde, de regularidade mensal. Terá acompanhamento nutricional mensal, treino físico personalizado três vezes por semana ou caminhadas orientadas pela equipa de trail run Dolce Furadouro. Será também alvo de sessões de grupo em que se concretizam dinâmicas de psicologia motivacional. Periodicamente estão programadas sessões de grupo de educação para a saúde e workshops.
Na prática os indivíduos que participam no programa recebem um acompanhamento global durante os oito meses de duração do mesmo. É feita uma análise inicial ao estado de saúde de cada um, depois passam por um processo de mudança de hábitos (alimentação mais equilibrada e exercício físico), há avaliações periódicas e sessões de motivação para não desistir e no fim uma análise que mede a evolução.
Mas o grande objectivo é que os benefícios sejam duradouros. Ou seja, durante o programa os participantes aprendem a cozinhar alimentos saudáveis, através de workshops, para que saibam como se alimentar melhor o resto da vida. Assim como também ganham o gosto pelo exercício físico e a prática desportiva possa continuar no futuro.
Equipa multidisciplinar
O Programa Saúd’ouro resulta da intervenção conjugada de uma equipa multidisciplinar, que integra o médico Luís Borges Ferreira, mais duas enfermeiras, duas nutricionistas, um professor de educação física, uma psicóloga, técnicos de análises clínicas e de saúde pública, uma terapeuta ocupacional, uma socióloga, estudantes das áreas da saúde e da informática e ainda alguns voluntários que exercem funções administrativas.
Uma das vantagens deste programa é o facto de grande parte do trabalho daqueles profissionais ser voluntário. No entanto, para que o projecto tivesse viabilidade financeira e científica, foi necessário estabelecer parcerias com algumas entidades, como a Câmara Municipal, a União de Freguesias, a Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e empresas locais.
Previsto inicialmente para 15 participantes, a realidade é que acabou por ter o dobro das inscrições.
O projecto, que deverá terminar em Maio, começa agora a mostrar os primeiros resultados: melhoria na percepção de bem-estar, redução no volume e peso, melhoria na tolerância ao esforço e melhoria dos parâmetros no controle das doenças crónicas presentes.
A coordenadora do projecto revela que:
é muito importante que os resultados refutem ou reforcem a importância deste programa na saúde das pessoas. Neste sentido, o grupo de intervenção encontra-se neste momento empenhado em construir condições para desenvolver uma segunda edição e também validar cientificamente a intervenção realizada, a fim de que possa ser disseminada noutros contextos e por outras entidades da sociedade civil”.