Sultana Khaya, ativista saharaui dos direitos humanos, e toda a sua família imediata têm sido vítimas de ataques físicos brutais, prisão domiciliária, vigilância constante e assédio desde 19 de novembro 2020.
A agressão aumentou e Sultana declarou publicamente que “as autoridades de ocupação marroquinas pretendem eliminar-me fisicamente”. Em 13 de fevereiro, a brutalidade dos ataques pelas autoridades de ocupação marroquinas aumentou significativamente com mais um ataque a Sultana e à sua irmã Elwaara.
Segundo fontes dos territórios ocupados, dois dos agressores foram identificados como os agentes marroquinos Hakim Amern e o seu adjunto, Mohamed Madi.
Sultana Khaya apelou às organizações internacionais de direitos humanos para que proporcionem aos indefesos civis saharauis a protecção necessária contra as práticas repressivas do regime marroquino. Desde o fim do cessar-fogo, que foi violado pelo Reino de Marrocos em 13 de novembro do ano passado, os territórios ocupados estão sob um cerco ainda maior.
A família de Sultana Khaya está preocupada com os seus ferimentos, ao nível do seu único olho. O outro olho já tinha sido removido à força pelas autoridades marroquinas em 2007.
O regime marroquino, através do seu CNDH (Conselho Nacional dos Direitos do Homem), tornou público que visitou Sultana Khaya para iniciar uma investigação.
Segundo Sultana Khaya, “a declaração publicada pelo CNDH é uma mentira e ela nunca falou com eles”.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos saharaui (CONSADAH) afirmou que as declarações “nada mais são do que uma manobra para encobrir os horríveis crimes que a activista e a sua família sofreram às mãos das forças de segurança marroquinas”.
A afirmação nada mais é do que uma mentira e uma contradição à realidade, numa tentativa desprezível que visa “enganar a opinião pública nacional e internacional”. acrescentou a CONSADAH no seu comunicado de imprensa.
A Comissão de Direitos Humanos saharaui relembrou o Comité Internacional da Cruz Vermelha para cumprir a sua missão e proteger a população civil saharaui que sofre sob a ocupação e exortou-os a assumir as suas responsabilidades no Sahara Ocidental por se tratar de um território não autónomo cuja descolonização ainda está pendente e cuja população ainda não goza do direito à autodeterminação e independência.
O presidente do CICV, Peter Maurer, não tem intenção de agir
Numa entrevista recente sobre o coronavírus (Peter Maurer: “¿Pandemia? En África faltan vacunas contra la polio, la malaria y la tuberculosis”), Peter Maurer respondeu à pergunta:
“- O que você pensa sobre as tensões no Sahara Ocidental? ”
– É uma situação muito delicada que estamos a acompanhar. Mas acreditamos que a ação política ainda pode evitar uma nova escalada, e acreditamos que outros atores precisam intervir, a começar pela ONU, que tem um papel importante a desempenhar nesta questão.
A questão, então, é se o CICV esperará por uma solução e então a sua assistência não será mais necessária. Durante décadas, o CICV tem sido solicitado a intervir para ajudar as vítimas saharauis dos crimes do regime de ocupação marroquino, mas sempre se esquivou das suas responsabilidades. Nem mesmo os presos saharauis nas prisões marroquinas recebem a visita do CICV há mais de duas décadas.
A outra questão é o que pensam os Estados doadores do CICV sobre essa “inação” do CICV, cujo mandato é muito claro no caso do Sahara Ocidental, que preenche todos os critérios de uma população que necessita urgentemente da sua intervenção.
O reino marroquino mostra a sua fraqueza
Os ataques contra uma família de mulheres, Sultana, a sua irmã e a sua mãe idosa são uma tentativa desesperada de intimidar a população saharaui.
Numa visita a uma escola em Lisboa em 2008, Sultana Khaya que estava a conversar com um grupo de crianças foi questionada por uma menina:
E agora que eles lhe arrancaram o seu olho, lhe bateram, destruíram as suas coisas e fizeram coisas horríveis ao seu povo, a Sultana vai voltar e continuar a lutar pela liberdade do seu país? ”
Sultana respondeu “sim, claro” e a menina fez um gesto de aprovação com a cabeça.
Marrocos parece não compreender que atacar os saharauis apenas mostra a fragilidade das suas reivindicações quando tentam fingir que está tudo bem no Sahara Ocidental.
Os ataques contra civis, que estão completamente desarmados e cujo único crime é exigir o respeito do Direito Internacional, não é apenas um crime, é a prova de que o Reino de Marrocos é muito mais fraco do que tenta mostrar.
Mostra também aos colonos marroquinos que Marrocos está desesperado e teme a população saharaui, que foi reduzida a menos de 30% após a guerra com a introdução de militares marroquinos, polícia, forças auxiliares e colonos.
por A. Garcia
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