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João de Sousa

Sábado, Dezembro 21, 2024

AUKUS, submarinos e um… regresso às origens

Onde os franceses viram a ruptura de um contrato ou uma questão de guerra económica, outros viram uma erupção da geopolítica. Não é de economia, de mercados, de compra e venda, de negócios ou de contratos que se trata mas sim de algo imaterial mas pesadíssimo: confiança.

Creio que os laços mais fortes que unem Austrália, UK e USA são não os da língua mas sim os da guerra. Desde o início do século XX que estes três Estados se bateram e batem juntos em várias frentes e em várias guerras. E, é sabido, a confiança criada entre “irmãos de armas” a nenhuma outra é comparável…

Não há entradas à posteriori nestas “fraternidades”. Pode e deve haver convergências ou alianças com outros poderes. Mas a “fraternidade” é só para os que “estiveram lá”. E os franceses (que se dizem apanhados de surpresa mas que têm todos os instrumentos, dispositivos e motivos para o não ter sido…) não perceberam isto… Ou não o querem perceber.

Em 1939, uma semana antes do início da II Guerra Mundial, a assinatura do Pacto Germano-Soviético isolou os ingleses e colocou-os na aparente posição de presa fácil da máquina de guerra alemã. É nesta circunstância estratégica que Winston Churchill tem a lucidez e a coragem de lançar o seu “Never Give Up”.

A este pacto com os nazis, Estaline virá a somar, em 1941, ainda um outro com o Japão: o Pacto de Não-Agressão Nipo-Soviético, assinado meses antes do ignóbil ataque-surpresa japonês a Pearl Harbor.

Ou seja, nos finais de 1941, as potências marítimas anglo-saxónicas estavam sozinhas face aos ataques combinados do Japão e da Alemanha e à passividade cúmplice da URSS.

Esta situação só viria a alterar-se no início de 1942, depois de Hitler ter ordenado a invasão do seu aliado soviético (operação Barbarossa) e Estaline ter percebido que, para resistir ao ataque alemão, necessitava absolutamente do apoio material e logístico dos norte-americanos…

Ingleses, norte-americanos e australianos constituíram, portanto, o “core” da resistência ao ataque global do Eixo germano-japonês. A este “core” viriam a agregar-se as “Resistências” (francesa, polaca, grega, jugoslava, italiana e outras) e a própria URSS, embora só depois de invadida pelos alemães, como já vimos.

É este “core” anglo-saxónico que agora ressurge numa estratégia de “containment” da ameaçadora expansão do império chinês liderada pelos novos mandarins organizados no Partido Comunista Chinês. Uma estratégia de “containment” que vai exigir “clarificações” aos actuais aliados (herdados da “guerra fria” e/ou da decomposição do império soviético) e fará pagar caro as hesitações e/ou quaisquer tentações neutralistas…

Esta aliança de três potências marítimas (há mais de cem anos habituadas a “trabalhar” juntas …) é um sinal maior de que o mundo mudou, os riscos e ameaças subiram e a geopolítica tomou o comando.

É tempo de substituir grelhas de leitura…


Exclusivo Tornado / IntelNomics

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