(1930 – 2017)
Antifascista militante desde jovem e dirigente do PCP, Aurélio Santos esteve activamente presente nas lutas académicas, no MUD Juvenil, em festivais da juventude no país e no estrangeiro. Mas foi pela sua inconfundível voz na Rádio Portugal Livre[1]. que ficou conhecido na Resistência. Era a voz do Partido Comunista, que, pela radio, difundia informação das lutas travadas diariamente contra a ditadura, nas condições mais adversas, bem como palavras de ordem e a orientação do partido. Foi, durante décadas, uma voz escutada por milhares de portugueses. Era um homem de rara qualidade humana e de excepcional cultura.
Aurélio Santos nasceu em Vilar de Torpim, no concelho Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda, em 1930. Desde muito jovem participou na luta antifascista. Como estudante da Faculdade de Medicina de Lisboa, cujo curso frequentou até ao 4º ano, participou activamente no movimento estudantil e integrou a direcção da revista Medicina (1952/1953).
Dirigente estudantil
De 1950 a 1953 foi dirigente associativo estudantil e de 1951 a 1957 dirigente do MUD Juvenil. Frequentou, até ao 4º ano, a Faculdade de Medicina, na Universidade de Lisboa, fazendo parte da Associação de Estudantes, da qual chegou a ser dirigente.
Foi preso em 1953, na sequência da sua militância no Movimento de Unidade Democrática Juvenil. Por ocasião da realização do terceiro Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, realizado na Roménia (1953), o MUD Juvenil organizou a ida de uma delegação a Bucareste e Aurélio Santos integrou-a, chefiando-a. (Representou também o MUD Juvenil no Congresso da União Internacional dos Estudantes – UIE). O Festival foi em Agosto e, no regresso, AS ainda prosseguiu estudos e actividades associativas, mas em Dezembro de 1953 foi preso, levado para o Aljube e depois para Caxias. Dali foi enviado para a sede da PIDE no Porto.
Esteve preso de 1953 a 1955 e, em 1955, entrou para o Partido Comunista Português. Desde então, durante mais de 60 anos, conviveu e lutou ao lado de sucessivas gerações de comunistas e de outros antifascistas, dando o melhor de si, revelando qualidades raras de humanidade, sensibilidade, abertura aos outros, mesmo àqueles que não partilhavam com ele os ideais marxistas-leninistas.
Em 1957 entrou para a clandestinidade como funcionário do PCP. Foi director da Rádio Portugal Livre de 1963 a 1974, durante quase todo o período de existência dessa rádio clandestina do PCP. Em 1965, no VI Congresso do PCP, entrou para o Comité Central.
Durante a sua longa vida de militância no período do fascismo, Aurélio Santos esteve activamente presente nas lutas académicas, no MUD Juvenil, em festivais da juventude no país e no estrangeiro, e em diversas outras áreas de intervenção do PCP.
O regresso, após a Revolução de Abril
Regressou do exílio em 15 de Maio de 1974, vindo da Roménia e ficou a viver em Lisboa.
Depois do 25 de Abril, foi responsável pela Secção Internacional do PCP de 1974 a 1975.
Em 1974 fez parte da Comissão de Programas da RTP, e mais tarde, do Conselho de Imprensa, de 1976 a 1979.
No PCP foi responsável pela Secção de Informação e Propaganda do Comité Central do PCP, de 1976 a 1984; foi membro da DOR Lisboa e do seu Executivo, e responsável pelo Sector de Artes e Letras de 1984 a 1988; membro da Comissão Executiva Nacional de 1990 a 1992 e membro da Comissão Central de Controlo.
Teve um papel importante na formação de quadros do PCP (e no trabalho diário em várias frentes), e esteve ligado a grandes realizações deste partido. O seu nome é considerado «parte integrante da história do Partido» e «um dos seus mais destacados construtores».
Eleito membro do Comité Central do VI Congresso, em 1965, veio a ser reeleito sucessivamente para o CC até ao XVI Congresso. Neste último foi eleito para a Comissão Central de Controlo e reeleito para o mesmo cargo em 2004, no XVII Congresso.
Integrou a Comissão junto do Comité Central para a cultura literária e artística e a Direcção da Festa do «Avante!».
Foi durante vários, e até recentemente, um destacado dirigente da URAP, apesar de ter sido atingido por uma cegueira progressiva.
Homenagem a Aurélio Santos, na sede do PCP, por ocasião do seu 80º aniversário.
Por ocasião do seu 80º aniversário, foi homenageado pelo PCP num convívio realizado na sede central do Partido, em que interveio Luísa Araújo, membro do Secretariado do Comité Central, para elogiar o prestigiado dirigente comunista, sublinhando que a sua vida foi dedicada à luta pela emancipação do povo português.
Morreu a 30 de Setembro de 2017.
Fotografia de Aurélio Santos, tirada junto à casa onde nasceu, em Vilar Torpim. Foto facultada pelo amigo Joaquim Margarido
Aurélio Santos, em 2009, com duas companheiras do MUD Juvenil: Maria Amélia Padez e Miriam Halpern Pereira.
Três militantes da Resistência: Aurélio Santos com Maria Amélia Padez e José Tengarrinha, em 2009.
Domingos Abrantes, (PCP) Aurélio Santos (PCP), a historiadora Irene Pimentel, Raimundo Narciso (NAM) e Raquel Bagulho.
[1] A RPL era uma estação de rádio que funcionava em Bucareste, oferecida por um conjunto de partidos comunistas (União Soviética, Roménia, República Democrática Alemã e Hungria), que se juntaram para apoiar os movimentos antifascistas europeus de países como Portugal, Espanha e Grécia. . Foi nesse quadro que o papel da Rádio Portugal Livre, como rádio do Partido Comunista Português, teve um papel importante para a luta antifascista no nosso país. Durante duas horas por dia, transmitiam notícias que não podiam circular em Portugal, a não ser através da imprensa clandestina. Teve um papel importante, principalmente contra a Guerra Colonial e no apoio a todo o movimento de resistência àquela guerra, tanto por parte dos africanos como pelas tropas portuguesas. Igualmente importante para a criação do Movimento dos Capitães, depois Movimento das Forças Armadas, que desencadeou o Golpe Militar em 25 de Abril, que derrubou o governo de ditadura fascista.
Dados biográficos:
- Jornal «Avante!»: Aurélio Santos e fraternidade
- PCP: Aurélio Monteiro dos Santos
- PDF URAP Abr/Ago 2012: União de Resistentes Antifascistas Portugueses
Fotografia do arquivo pessoal de Helena Pato
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