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Terça-feira, Novembro 5, 2024

Autárquicas 2017: A conquista do paraíso e a descida ao inferno

A banda sonora de uma noite de vitória e derrota históricas.

PS com a maior vitória da sua história, PSD com o pior resultado autárquico de sempre e PCP sob erosão estes serão, consensualmente, os destaques das autárquicas 2017.  A abstenção faz parangona tímida,  com uma redução relativamente ao recorde alcançado nas últimas autárquicas. Assunção Cristas, primeira líder partidária a falar sobre os resultados eleitorais, jogou o futuro, de mangas arregaçadas em Lisboa e ganha a Teresa Leal, suplantando o PSD na capital. Anuncia vitoriosa um CDS-PP que espera forte o suficiente para fazer esquecer, definitivamente, Paulo Portas.

Para a história ficam 140 câmaras para o PS, 86 para o PSD, 18 para a CDU e 6 para o CDS-PP.

A esquerda à esquerda do PS (que mais beneficia, autarquicamente, com a geringonça) fica maltratada. O BE, crescendo em número de votos e em eleitos, elege vereadores em Lisboa e Abrantes, mas fica  sem qualquer autarquia.

O PCP sofre um volte face autárquico (domínio onde tem tradição) com baixas em Peniche, Barreiro, Alcochete e no Baixo Alentejo. Sobretudo perda para as populações, afirma Jerónimo de Sousa, resignado com o desaire.

O Secretário Geral do PS (segundo sondagem do Correio da Manhã à beira da maioria absoluta), conciliador como nos tem habituado na governação das esquerdas,  subvaloriza, no rescaldo, o descalabro do PCP, mesmo ganhando os bastiões comunistas de Almada, Beja e Barreiro, valorizando que o rosa sobressai no mapa autárquico por mérito próprio. Na continuidade da defesa das damas de acordo mais diz, apontando as baterias à direita arqui-inimiga, que os resultados são muito maus para a direita, defendendo que a vitória PS não foi cavada na derrota dos parceiros parlamentares. Há um claro derrotado para si: o PSD.

Nos Movimentos, Juntos pelo Povo conquista Santa Cruz, na Madeira, e o Nós Cidadãos ganha em Oliveira de Frades, distrito de Viseu.

Referência, também, para as vitórias da continuidade. Fernando Medina em Lisboa que afirma sem reservas “Vamos continuar a construir o futuro em Lisboa”, Rui Moreira que ganha no Porto com maioria absoluta reiterando que “Os grandes projetos que lançámos vão ser concluídos” e identificando Rui Rio e Rangel como grandes derrotados, Isaltino Morais em Oeiras a afirmar “O poder não é a cadeira. É a capacidade para ouvir as pessoas.”, Manuel Machado em Coimbra, Maria Dores Meira em Setúbal, Rogério Bacalhau em Faro e Raul Castro em Leiria.

Carlos M. J. Alves

Dos dinossauros que voltam ao escrutínio eleitoral  só Isaltino, no pós pena cumprida, passa com distinção, sobrevivendo ao desaire dos homónimos: Valentim Loureiro (Gondomar), Carlos Pinto (Covilhã), Fernando Seara (Odivelas) ou Narciso Miranda (Matosinhos) que, mais uma vez como independente, não consegue a preferência do eleitorado.

Para o principal derrotado não há copo meio cheio ou meio vazio. Ante a derrocada do PSD nestas autárquicas Passos Coelho cai sob alçada do prognosticado inferno de Marques Mendes, ficando em conturbado limbo “Should I stay or should I go?”.

Em pano de fundo, a dívida pública aumenta para 249,2 mil milhões em julho ante um eleitorado que parece (os resultados também serão explicados por isso), definitivamente, convencido que afinal havia outra alternativa e uma oposição PSD, com Passos Coelho, perdendo câmaras que nunca pensou perder, teimando na não demissão, com o partido dividido por um senhor que se segue por que já se anseia.

Andamento fúnebre de social democracia em crise com ecos de loop “If I go, there will be trouble. And if I stay it will be double” em contraste com o ambiente “Conquest of Paradise” que se ouve no hotel Altis.

 

Por Carlos M. J. Alves

Investigador e Doutorando em Ciência Política, especialidade de Teoria e Análise Política, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa; Mestre em Filosofia, na especialidade de Filosofia Política.

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