O recente relatório da Amnistia Internacional documenta a investigação feita no terreno nas últimas semanas na Nicarágua, comprovando que as autoridades do país lançaram uma repressão letal contra manifestantes.Segundo a organização de direitos Humanos, a repressão das autoridades da Nicarágua foi “com uso excessivo de força, execuções extrajudiciais, controlo dos media e recurso a grupos armados pró-governamentais para esmagar os protestos em que já pelo menos 81 pessoas foram mortas”.
Na Nicarágua, as autoridades viraram-se contra o próprio povo num ataque perverso, continuado e frequentemente mortal aos direitos à vida e à liberdade de expressão e de manifestação pacífica. O Governo do Presidente, Ortega, está descaradamente a tentar encobrir estas atrocidades, violando os direitos das vítimas à verdade, à justiça e ao ressarcimento”.
As manifestações na Nicarágua, maioritariamente lideradas por estudantes, começaram a 18 de Abril passado em reacção a reformas governamentais que fizeram subir significativamente as contribuições dos trabalhadores e dos empregadores para a Segurança Social e que, em simultâneo, cortaram benefícios. Até 28 de maio pelo menos 81 pessoas foram mortas nos protestos, 868 feridas e 438 detidas, no contexto da resposta de mão pesada e altamente coordenada do Estado aos protestos.
O relatório intitula-se “Shoot to kill: Nicaragua’s strategy to suppress protest“(Atirar a matar: a estratégia da Nicarágua para suprimir protestos), onde estão documentados vários casos em que as autoridades da Nicarágua bloquearam a realização de autópsias a pessoas que foram mortas nos protestos e condicionaram a entrega dos corpos aos familiares à assinatura de documentos de renúncia em que as famílias tinham de se comprometer a não apresentar queixas.
Vários familiares de vítimas contaram que a polícia os ameaçou e intimidou com o objetivo de os dissuadir de contarem o que se passou ou de formularem acusações sobre as mortes.
O tratamento sem remorsos dado pelas autoridades às vítimas e às suas famílias mostra claro desprezo por quem as ousa enfrentar. Apesar destes esforços cruéis e calculados do Governo para suprimir a dissidência, a corajosa população da Nicarágua demonstrou já que não será silenciada”.
Imagem de Juan Carlos Martínez, morto durante um protesto em Ciudad Sandino, na Nicarágua. (Foto: Oscar Navarrete Aguilar)
Imagem de um homem armado em Estelí, Nicarágua (Foto: Amnesty
Este relatório foi apresentado ontem em Manágua, contando com a presença de Erika Guevara-Rosas, Directora da Amnistia Internacional para a região das Américas, que na véspera testemunhou um protesto de estudantes na Universidade de Engenharia de Manágua a ser atacado a tiro por grupos sandinistas e pela polícia antimotim.
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