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João de Sousa

Domingo, Novembro 3, 2024

Avelino Coelho foi o líder mais coerente e inovador na campanha eleitoral

J.T. Matebian, em Timor-Leste
J.T. Matebian, em Timor-Leste
Correspondente em Timor-Leste.

A campanha eleitoral terminou ontem em Timor-Leste. Os líderes que têm estado no poder há mais de 20 anos repetiram as mesmas promessas durante 30 dias. O único programa eleitoral digno desse nome, coerente e inovador, foi apresentado pelo PST.

A campanha eleitoral demonstrou o que já todos sabíamos mas ficou agora provado. Em Timor-Leste a educação está péssima, as estradas também estão uma lástima, não há água potável na maior parte dos Municípios, a saúde está má e os agricultores e os jovens foram sempre esquecidos.

Os dirigentes dos partidos com mais assentos no Parlamento Nacional (FRETILIN e CNRT), e também com muito dinheiro, em quase todos os comícios dirigiram os seus discursos para o petróleo, para os recursos energéticos e para o problema das fronteiras de Timor-Leste.

Por outro lado, os líderes que formaram governo (FRETILIN, PLP e KHUNTO) afirmaram que querem continuar com o programa governamental prometendo melhorias, mas sem especificar quais as medidas políticas a implementar para se atingir esses desideratos.

Outros líderes partidários fizeram promessas, absurdas, demagógicas, sem um programa eleitoral, portanto, demonstrando a ausência de projectos políticos e muito menos ideológicos.

Agricultores, trabalhadores e jovens-estudantes

O Partido Socialista de Timor (PST), apesar de ser um partido político sem dinheiro que vive apenas das quotas dos seus membros, provou ter capacidade organizativa e foi o único que apresentou um programa eleitoral verdadeiramente inovador, desde logo, no sector da agricultura, pela mensagem difundida segundo a qual, o “Estado la iha rai! Rai Povo nian!” (“o Estado não é o dono da terra; a terra pertence ao Povo”), deve haver subsídios para agricultores e acções para os trabalhadores, assente numa política pública sectorial para o desenvolvimento da plantação e produção de café, com propostas de medidas estratégicas fundamentais e com medidas técnicas complementares ou condicionantes.

Transparece de forma explícita a ideia de que a concepção de instrumentos jurídicos adequados a serem produzidos com base na Constituição de Timor-Leste tem como objectivo central transmitir o poder aos Sucos e às Knuas para gerirem as terras que lhes pertencem, uma medida política que se enquadra na tese do PST da “Reposição da Ordem Democrática e Constitucional”, numa linha de raciocínio coerente com a cultura e lisan de Timor-Leste.

Para além da agricultura e indústria, as propostas políticas do PST para a educação também fizeram a diferença.

No âmbito da Educação Pré-Escolar, ignorada há 20 anos, sendo muito determinante para a formação e o desenvolvimento da criança, o PST defendeu uma Lei-quadro da Educação Pré-Escolar Popular, inovadora, verdadeiramente contextualizada ao nível dos Sucos com a grande finalidade de utilizar o conhecimento e o saber das Knuas para a definição dos conteúdos programáticos e das competências a construir no âmbito do currículo.

Também, no plano do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, o PST distinguiu-se dos restantes partidos políticos ao ter apresentado 5 propostas políticas totalmente fundamentais para a mudança:

  • Relação entre o Ensino Superior, Ciência e Tecnologia;
  • Aposta na Qualidade e na Inovação (Ensino, Pesquisa e Extensão);
  • Adequação da oferta do Ensino Superior às necessidades e prioridades do país;
  • Garantia do acesso ao Ensino Superior e Equidade (Ensino Superior Gratuito);
  • Internacionalização das Instituições de Ensino Superior (IES).

O poder de influência do PST na sociedade foi de tal forma perceptível nesta campanha eleitoral que praticamente todos os partidos políticos durante a campanha eleitoral tentaram “copiar” o seu programa eleitoral, principalmente no sector da agricultura (subsídio para os agricultores) e no sector da educação (ensino superior gratuito).

Há tudo por fazer e o povo precisa de votar bem para haver mudança

As promessas de melhorias sociais invocadas em todos os comícios, conforme referi, foram mais do que muitas desde promessas de aviões, pontes, apoios financeiros aos veteranos, casas, fábricas, bolsas de estudo para os veteranos  / antigos combatentes estudarem (incluindo no pré-escolar!), postos de trabalho, dinheiro para isto e para aquilo.

Nesta campanha eleitoral ficou visível a fragilidade de Timor-Leste, principalmente devido à incompetência demonstrada por muitos líderes políticos e pela falta de sentido de Estado.

Em resumo, a campanha eleitoral demonstrou que em todo o território nacional aquilo que já se sabia: em Timor-Leste há tudo por fazer e pouco ou nada se fez durante mais de 20 anos!

Em relação aos resultados eleitorais, uma análise relâmpago permite concluir que nenhum partido político terá maioria no Parlamento Nacional, pelo que, os chamados grandes partidos terão que formar coligações para formar governo;

Uma outra situação previsível é assistirmos à descida de alguns partidos e à subida e entrada no Parlamento de outros Partidos.

Dia 21 de Maio de 2023 será o dia da eleição.

Aguardemos.

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