A Revolução do Barroco, que o autor edifica, é também visível no que era a Iconografia tradicional, que ele havia de pôr de pernas para o ar, o que é absolutamente emblemático nesta obra.
Não há, aqui, nenhuma majestade neste deus do vinho, uma vez que estamos na presença de um rapaz simples do povo. Devido à superior pintura sensorial, Caravaggio evitou uma caricatura deificada. Repare-se no requinte técnico das transparências do vidro, na garrafa de vinho e na taça que segura com a mão.
Tem um rosto sensual de uma presumida homossexualidade. O corpo é bem delineado, musculado, de um assinalável realismo. Aliás, pensa-se que o retrato corresponderá a um amiguinho íntimo do pintor.
Só a partir do final do século XIX, a História de Arte vai reparar no magistral Caravaggio e no seu famoso tenebrismo. De tal modo assim é, que o historiador de Arte, Roberto Longhi, assegura que «sem ele não teria havido Ribera, Vermeer, De La Tour e Rembrandt».
Nota da Edição
Michelangelo Merisi da Caravaggio
(1903-1962)
Sobre Caravaggio foi dito que foi um revolucionário, quer pela sua vida turbulenta, quer pelo facto da sua pintura ter proposto uma oposição consciente ao Renascimento e ao Maneirismo.
Procurou, sempre, a intensidade de efeitos através de veementes contrastes entre o claro e o escuro que modelam as figuras e objectos, e através de uma presença física de um vigor incomparável. Ao evitar qualquer vestígio de idealização e fazer do realismo a sua bandeira, Caravaggio pretendia que nenhum espectador ficasse indiferente aos seus quadros.
Considerado o maior pintor italiano de seu tempo, aprendeu a pintar com Simone Peterzano e, sobretudo, a partir do estudo das obras de alguns artistas venezianos. Algumas de suas obras são rejeitadas pelo naturalismo com o qual aborda as paisagens bíblicas, mas não faltaram mecenas dispostos a adquirir de bom grado aqueles quadros que o clero não via com bons olhos.
