Assim vão os bancos em Portugal e na Europa: movem-se mas sem rumo nem liderança. O dinheiro ganhou neles vida própria. É sugado aos cidadãos; é injectado pelo Estado nos bancos mais fracos; estes são vendidos a preço vil aos bancos mais fortes; e estes dependem do Banco Central Europeu que lhes lança dinheiro das nuvens, enquanto se aproxima o colapso do sistema montado nos longínquos anos 90 e que desde 2008 não recuperou mais.
Nunca houve tanto dinheiro na Europa – 95% dele escriturário – mas é como as areias do deserto; a ninguém aproveita e o sistema está descontrolado.
Primeiro, vem a austeridade forçada para o Estado arrecadar dinheiro. Pensionistas e reformados tentam sobreviver. Empregados e funcionários veem os seus ordenados reduzidos, enfrentando o precariado e a pauperização. Os jovens vão saltando de emprego em emprego, na tentativa de criar condições para terem casa e família. Centenas de milhar de doentes deixam de ser assistidos de forma condigna em hospitais sobrelotados. Centenas de milhar de empresas e de famílias estão na insolvência ou com sobre-endividamento.
Depois, vem a injecção estatal. Entre 2007 e 2016 em Portugal – com as falências de BPN, BPP, BES, BANIF e as recapitalizações da CGD, mais juros sobre isto tudo – Portugal empatou 13 mil milhões de euros de ajudas ao sector financeiro, 7,3% do produto interno bruto.
A seguir, as dívidas dos bancos dos países ricos são passados aos bancos dos países pobres. Os países europeus resgatados – Portugal Grécia e Espanha – reduziram dezenas de milhares de milhões de euros de exposição a bancos estrangeiros desde o início do resgate – mas continuam a aumentar o volume de dívida total. Ou seja, resgatados foram apenas os bancos privados dos países europeus ricos. Tudo o mais que se disser é mentira.
Em paralelo os bancos fracos são vendidos aos bancos fortes. O BCE tem uma estratégia de colocar a banca privada nacional na dependência de bancos estrangeiros”, referem os subscritores do documento de reflexão “Reconfiguração da Banca em Portugal”. Veja-se a penetração da banca espanhola em Portugal.
O Santander comprou o BCI nos anos 80. Em 2000 tornou-se o accionista maioritário do Totta & Açores. Depois criou-se o Santander Totta. Depois ficou com o Banif, após o colapso de Dezembro de 2015 pagando apenas 150 milhões de euros, a um banco resgatado que recebeu 225o milhões de Nós, o Estado. E agora poderá comprar até Agosto de 2017 o Novo Banco que custou 4,9 mil milhões ao “Fundo de Resolução” – ao qual Nós, o Estado emprestou 3,9 mil milhões de euros.
Também o Bankinter espanhol comprou em Setembro de 2015 o negócio de retalho do Barclays Portugal. O CaixaBank espanhol lançou uma OPA em Abril de 2016, sobre o Banco Português de Investimento (BPI) que parece final. Desde o início do ano, vários bancos espanhóis querem adquirir o Millenium/BCP, sendo que o Sabadell já controla 5%.
Na fase seguinte, os zombies chegam aos grandes bancos das grandes nações. O Deutsche Bank está a vacilar. O Banca Monte dei Paschi di Siena, de Itália, ( o mais antigo do mundo em funcionamento) tem 40 mil milhões de créditos mal parados.
Segundo as regras recém-criadas de “resolução de banco” – a linguagem crioula da parasitocracia para descrever a falência de um banco – os depositantes tornaram-se credores do banco contra sua vontade. Em caso de falência os accionistas pagam em primeiro lugar, em seguida, os credores e finalmente os depositantes, com mais de 100.000 euros.
Talvez o nível de literacia financeira dos bebedores de cerveja dos países do norte da Europa seja superior aos dos bebedores de vinho dos países do sul da Europa. Mas a turbulência ataca a todos. Diz o FMI, através de Peter Dattels: “Na Europa, cerca de um terço do sistema bancário – cerca de 7.500 mil milhões de euros – permanece incapaz de gerar lucros de forma sustentável ”
Finalmente, os zombies vivem no Banco Central Europeu. Como está em jogo a sobrevivência da zona euro, o BCE emite dinheiro a rodos em papel-moeda enquanto a banca zombie continua a criar dinheiro escritural através de empréstimos.
Ainda falta uma coisa: à injúria acrescenta-se o insulto, como lembra a famosa sentença de Tomás Moro. à injúria gigante infligida pela banca, junta-se o insulto dos vencimentos milionários dos administradores de um sistema condenado a falhar.
Há saída ? Há, mas só quando deixarmos de nos guiar pelas élites financeiras e políticas do momento. A dúvida instalou-se no coração da Europa: leiam a confissão de Jean-Claude Juncker a 7 de Outubro, por ocasião dos 20 anos do Instituto Jacques Delors, em Bruxelas.