Os regulamentos europeus proíbem aos Estados a injecção directa de fundos em bancos sem que os respectivos investidores e accionistas partilhem perdas. Estas regras foram concebidas em grande parte devido à relutância alemã de que Berlim e as instituições europeias teriam de salvar instituições financeiras da zona euro, ou de que alguns dos seus governos criariam inadvertidamente expectativas de assistência do Estado a bancos em dificuldades.
No meio de uma “dança macabra” do sector financeiro europeu à beira do abismo, um recentíssimo alerta da equipa de George Friedman aponta para “um banco alemão, o Bremer Landesbank (instituição bancária pública regional de referência), que pode estar à beira de um resgate.
Até há bem pouco tempo, os seus três principais accionistas – o Norddeutsche Landesbank (instituição bancária pública líder na região da Baixa Saxónia), a cidade de Bremen e a associação de bancos públicos do Norte do Reno / Vestefália – haviam acordado uma estratégia de aumento de capital para as instituições financeiras da região, bem como, potencialmente, uma aquisição ou transferência de propriedade para o Norddeutsche Landesbank. No entanto, a 7 de Julho, o primeiro-ministro da Baixa Saxónia, Stephan Weil, declarou não ir ter lugar qualquer apoio de capital proveniente dos seus cofres.
Problemas na indústria de transportes de mercadorias deixaram um conjunto de credores alemães – do gigante bancário Deutsche Bank aos bancos menores – a braços com o impacto das perdas em créditos. Tais problemas levaram o Bremer Landesbank, com activos de cerca de 29 mil milhões de euros no final de 2015, a anunciar que teria de assumir perdas no valor de várias centenas de milhões de euros.”
Ainda na Zona Euro, a Itália enfrenta níveis de crédito malparado que ameaçam gerar nova crise financeira na Europa.
Segundo a Fitch Ratings, “A volatilidade do mercado depois do referendo no Reino Unido atinge com especial dureza o sector bancário italiano, um dos mais débeis da Europa”.
Em Abril passado, Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, levou os bancos a criarem um fundo de 5 mil milhões para o sector. A solução encontrada (que envolve os bancos, em conjunto com outras empresas do sector financeiro italiano), para Marco Elser, analista da Lonsin Capital entrevistado pelo canal Bloomberg, “não será suficiente para resolver um problema que se avalia em 360 mil milhões.”
O primeiro-ministro italiano prepara-se já (contrariando os regulamentos europeus) para injectar fundos públicos nos bancos “como último recurso, caso o sector venha a ser abalado por stress financeiro”.
O Bremer Landesbank pode não ser um gigante bancário, mas a forma como a Alemanha enfrente as dificuldades desta instituição será fundamental por várias razões.
Em primeiro lugar, o modo como a liderança e os reguladores alemães procederem face ao Bremer Landesbank fornecerá pistas sobre quão preocupado o Governo se encontra com a estabilidade do sector bancário alemão como um todo.
Em segundo lugar, os países da zona euro, e em particular a Itália, acompanharão de perto a situação em busca de sinais de que a Alemanha esteja a praticar dualidade de critério, permitindo vazios jurídicos para assistência aos seus próprios bancos, ao mesmo tempo que se mostra inflexível com os bancos noutros países da zona euro.
É possível que os proprietários do Bremer Landesbank encontrem um compromisso que não implique uma injecção directa de capital, mas constituirá ainda assim um teste crítico para a Alemanha, à medida que o país começa lentamente a abordar os crescentes problemas do seu sector bancário.