Tomás Correia saiu do Montepio mas deixou uma pesada herança de destruição que demorará muito tempo a recuperar e uma cultura de arbítrio e de ostentação que infelizmente persiste e que só uma administração de unidade ampla poderá eliminar e gerar uma nova confiança nos Associados.
Nesta Informação aos Associados do Montepio analiso a situação atual da Associação Mutualista, do Banco Montepio, e da Lusitânia SA (não vida) empresas do grupo Montepio que, como consequência da gestão ruinosa da administração de Tomás Correia, enfrentam atualmente situações de extrema dificuldade. E que Tomás Correia, embora obrigado a sair do Montepio, deixa uma pesada herança de destruição e delapidação das poupanças dos associados que levará muitos anos a recuperar. E isso só será possível com uma nova administração de unidade alargada, que inspire confiança aos associados, e não com uma administração de continuidade como se pretende.
Apesar de Tomas Correia já não estar no Montepio a cultura de desrespeito pelos associados e de abuso na utilização dos dinheiros do grupo Montepio continua a imperar de que são exemplos comprovativos a marcação de uma assembleia geral de associados para o dia 30 de Dezembro de 2019, com o objetivo de dificultar a participação dos associados, e a realização de uma Festa do Natal do grupo Montepio cujo custo foi de 235€ por pessoa.
Mesmo que não seja associado do Montepio peço a sua ajuda para que esta informação chegue ao maior número de associados da Associação Mutualista.
Finalmente, este é o ultimo estudo de 2019. Durante este ano publiquei 57 estudos, mais do que as semanas do ano. Embora isso me tenha exigido um grande esforço, e o sacrifício de quase todos os fins de semanas, considero que esse esforço valeu a pena se este trabalho foi útil a todos aqueles que leram os meus estudos e os divulgaram. Como sempre afirmei não existe, da minha parte, qualquer pretensão de substituir o pensamento único dominante nos media por outro, mas apenas o propósito de fornecer ao leitor uma outra forma de analisar os problemas económicos e sociais, na ótica da defesa de quem trabalha, para que ele, confrontando-a com a do pensamento neoliberal dominante nos media, forme a sua própria opinião, que é o mais importante.
Aproveito para desejar a todos Festas Felizes, e um Novo Ano 2020 melhor que o que agora termina
Estudo
Tomás Correia saiu do Montepio mas deixou uma pesada herança de destruição que demorará muito tempo a recuperar e uma cultura de arbítrio e de ostentação que infelizmente persiste e que só uma administração de unidade ampla poderá eliminar e gerar uma nova confiança nos Associados.
Informação 7/2019 aos Associados do Montepio
O Banco Montepio continua a não revelar sinais de recuperação e na numerosa Administração não há quem possa impulsionar a rede
O Banco Montepio, é o principal ativo da Associação Mutualista, onde estão investidos mais de 1.800 milhões € de poupanças dos associados, e portanto o principal garante dessas poupanças. E continua a não dar sinais de recuperação, como mostram as contas de Set/2019.
Quadro 2 – Demonstrações de resultados consolidados da CEMG – Banco Montepio – 2015 / Set. 2029
(Administração de Tomás Correia, José Morgado, e Carlos Tavares)
Comecemos por analisar a evolução da Margem financeira, que resulta fundamente da atividade “core” de qualquer banco de retalho que é a concessão de crédito. E a conclusão que se tira, é que a Margem Financeira obtida nos primeiros 9 meses de 2019 (180 milhões €) foi inferior à obtida nos primeiros 9 meses de 2018 (189 milhões €), o que revela naturalmente a incapacidade do banco, da sua administração e da rede comercial para aumentar a carteira de crédito, o que é muito grave. A confirmar esta incapacidade está a estagnação das Comissões líquidas (87 milhões € em 2018 e 2019). Infelizmente uma parte importante são ainda as cobradas aos depositantes.
Outro aspeto importante são os Resultados das Operações Financeiras (ROF´s): 47 milhões € nos primeiros 9 meses de 2019 quando se tinha obtido apenas 6 milhões € em igual período de 2018. Se analisarmos este valor – 47 milhões € – conjuntamente com os resultados líquidos obtidos até Set.2019 que foram de apenas 17,7 milhões €, quando em igual período de 2018 tinham sido 22,4 milhões €, é fácil de concluir que o Resultado liquido de 17,7 milhões € em 2019 só foram possíveis com as mais-valias obtidas com a venda de títulos da divida portuguesa. Se não tivesse acontecido isso, o Banco Montepio teria certamente registado prejuízos no 3º Trim.2019. No entanto isto tem o inconveniente de mais-valias não serem necessariamente repetíveis e não fazem parte da atividade “core” do Banco Montepio.
De positivo revelado pelos dados do quadro 2, interessa referir a diminuição do “Cost-to-income” que, entre 2018 e 2019, diminui de 68% para 58,8% e o elevado rácio de liquidez (LCR): 183,3%.
Um elevado rácio liquidez – 183,3% – portanto um valor muito superior ao exigido pelo Banco de Portugal (exige apenas 100%) tem ao mesmo tempo um lado positivo mas também um lado negativo. O lado positivo é de dar segurança e revelar confiança dos clientes; o lado negativo é liquidez que não é aproveitada devido à fraca concessão crédito. Para além disso, aquela elevada liquidez não gera receitas, e os depósitos geram custos, mesmo que sejam reduzidos.
Os rácios de Capital – CET 1 e Tier 1 registaram uma melhoria embora diminuta. O Rácio de Capital total aumentou 1,8 pontos percentuais. O certo é que apesar destas alterações, os valores dos rácios de capital continuam muito próximos dos mínimos exigidos pelo supervisor e qualquer alteração verificada nos pressupostos traduzir-se-á em necessidades de aumentar o Capital do Banco Montepio. E a Associação Mutualista já não possui capacidade para o fazer. Esta situação é muito provável que aconteça por isso é importante começar a pensar nela.
Analisemos agora o Balanço do Banco Montepio para completar a análise que foi realizada.
Quadro 3 – Balanço consolidado da CEMG / Banco Montepio – 2016/Set. 2019
Um aspeto preocupante revelado pelos dados do quadro 3, são as enormes aplicações em títulos: 3.256 milhões €, ou seja, 17,4% do Ativo líquido. Tal facto, para além de não fazer parte da atividade normal de um banco de retalho, tem ainda o inconveniente de incorporar no Banco Montepio o risco de taxa de juro, portanto qualquer alteração nesta poderá ter um impacto dramático na estabilidade da Caixa Económica, embora tenha a vantagem de diminuir os RWA, contribuindo assim para o aumento indireto dos rácios de capital sem ter de aumentar o capital.
O aspeto mais preocupante revelado pelo Balanço é a continuação da queda do crédito bruto e do crédito ilíquido. Em apenas 9 meses, verificou-se uma redução de 500 milhões € no crédito bruto, e de 577 milhões € no crédito líquido, a adicionar à perda de 1.000 milhões € registada durante o ano de 2018. Uma análise mais fina revela que o Banco Montepio nem consegue compensar o crédito que é liquidado mais o crédito que é amortizado.
Se retirarmos aos 500 milhões €, a carteira vendida (268M€) e os writte-offs (108M€ ), ainda sobram 124 milhões €. Esta incapacidade já revelada pela atual administração para inverter a queda continuado do crédito é extremamente preocupante pois o Banco Montepio não tem possibilidades de sobreviver sem aumentar o negócio bancário.
É inaceitável que na constituição da atual administração, que é excessivamente numerosa para um banco com a dimensão que tem o do Montepio, poucos membros tenham experiência de banca de retalho, e mesmo aqueles que têm é reduzida ou longínqua, e nenhum tenha de rede comercial o que está ter consequências graves na recuperação do banco. É evidente que a sua constituição não foram tidos em conta os interesses do Montepio nem dos associados. Mais uma herança deixada por Tomás Correia que a futura administração da Associação Mutualista terá de resolver.
É importante ainda referir que no período 2011/Set.2019, o total de crédito abatido ao ATIVO (writte-offs) por se terem considerados totalmente perdidos atingiu 1.812,5 milhões €, o que obrigou a Associação Mutualista a fazer sucessivas recapitalizações da Caixa com as poupanças dos associados. Não se teve de recorrer à ajuda do Estado como aconteceu com os outros bancos gabava-se TC, mas teve-se de utilizar as poupanças dos associados, delapidando-as, o que dá bem uma ideia da dimensão destruição de valor feita pela administração de Tomás Correia.
A nível de recursos de clientes (depósitos), os dados do quadro revelam que o valor de Set.2019 (12.574 milhões €) é praticamente igual ao valor de Dez.2018 (12.675 milhões €), no entanto se adicionarmos aos depósitos as “Responsabilidades representadas por títulos”, que são outra meio de financiamento da banca pelos clientes, então já se verifica uma redução de 151 milhões € entre Dez.2018 e Set.2019.
O Rácio de transformação, que dá a quantidade de euros de crédito que o banco concede por cada 100 euros de depósitos, revela também uma evolução preocupante. Em 2017, último ano da administração de Félix Morgado, por cada 100€ de depósitos a Caixa Económica concedia 103,7€ de crédito, em Set.2019 o Banco Montepio por cada 100€ de depósitos concedia apenas 91,8€ de crédito. Estes dados confirmam a incapacidade da atual administração para inverter a queda continuada do crédito concedido pelo Banco Montepio, sem o qual não pode sobreviver.
Outra situação que deve merecer uma séria reflexão pela sua gravidade é a redução significativa nos Capitais Próprios do Banco Montepio que pode obrigar brevemente a mais uma recapitalização. Como revelam os dados do seu Balanço, entre 2017 e Set.2019, com a atual administração, os Capitais Próprios do Banco Montepio passaram de 1.763 milhões € para apenas 1.523 milhões €, ou seja, sofreram uma redução de 240 milhões €. Tal evolução é explicada pelo enorme aumento verificado nas “Outras reservas e resultados transitados” que, no mesmo período, passaram de -731 milhões € para -959 milhões €, onde são registados os prejuízos, imparidades, diferenças de câmbio, reforço do fundo de pensões, etc. que vão diretamente à conta de Capital não afetando a conta de resultados (alguns destes valores irão afetar os resultados de anos futuros). A descapitalização da Caixa Económica continuou embora de uma forma menos visível.
A Lusitânia SA (não vida) acumulou enormes prejuízos e obrigou a recapitalizações
A falta de rentabilidade do Banco Montepio, que determina a impossibilidade de transferir excedentes para a Associação Mutualista, e esta de obter quaisquer rendimentos pelos mais de 1.800 milhões € que aplicou na Caixa Económica/Banco Montepio está a por em perigo a sustentabilidade da Associação Mutualista. Mas não é só o Banco Montepio, que devido à sua falta de rentabilidade, está a pôr em perigo a Associação Mutualista. O mesmo acontece com a Lusitânia SA (não vida), cujos enormes prejuízos acumulados estão a obrigar a sucessivas recapitalizações (quadro 4).
Quadro 4 – Capital Social, Instrumentos de Capital, Resultados Líquidos e Capitais Próprios da Lusitânia SA (não vida) – Em milhares de euros
Até 2018, a Lusitânia SA acumulou 112,69 milhões € de prejuízos e obrigou o grupo Montepio a recapitalizar esta empresa com 141,16 milhões € (instrumentos de capital) para que ela pudesse cumprir os rácios de solvência. Foi a consequência da má gestão de Fernando Nogueira, amigo de TC, que felizmente foi afastado pela ASF por falta de idoneidade. Até Outubro de 2019, a Lusitânia SA apresentou prejuízos de 4,5 milhões €, apesar disso foi obrigada a absorver a N Seguros (EXPRESSO ONLINE – 16/12/2019) que acumulou também prejuízos (até Out.2019 já tinha 2,5 milhões €), o que contribuirá para um maior desequilíbrio da Lusitânia SA, e para novas recapitalizações.
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