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Sábado, Dezembro 21, 2024

Bancos maus e povo parvo

João Vasco Almeida

Os bancos são maus e o povo é parvo por continuar a tratá-los com a reverência que não merecem. Geridos por açambarcadores e agiotas sem regras ou bom senso, dão-se ao luxo de deverem dinheiro a toda a gente e, depois, fazer cara de cachorro ao querer subir para a cama dos impostos, a pedir salvação.

Há que perceber que os bancos não têm dinheiro no cofre: vivem à custa da promessa de pagamento do crédito que lhes vão pedir. Quando se vai pedir 150 mil euros para uma casa, esse dinheiro não existe, é “criado” ali mesmo, contra a promessa de pagamento do cliente.

E, estranhamente, o banco fica 150 mil euros mais rico porque tem licença para “inventar” os 150 mil euros. Depois, pasme-se, pode pegar nesse dinheiro, que é apenas dívida de um cidadão honesto, e vender essa dívida no “mercado”.

Se uma senhora do Mercado se pusesse a gritar “Oh linda, olha a dívida fresca”, tinha a bancada vazia e gozavam com ela. Mas quando Nixon deu cabo do padrão “ouro” e o substituiu pela dívida, em 1971, a nota que se tinha no bolso passou a ser tão boa como um certificado de aforro. Há dias um rapaz bem intencionado perguntava, incrédulo: “Mas o dinheiro que tens na carteira não é teu??”. Não, o dinheiro que temos na carteira é uma licença bancária para que os bancos se enriqueçam através do povo e, depois, negoceiem com outros bancos mais crédito e dívida.

 

The Big Short
The Big Short, Paramount Pics.

Está tudo muito bem explicado em três obras simples. A primeira é All the Devils Are Here, onde a derrocada de 2008 está clara como água, mas não só. Conta-se como os bancos estão todos feitos uns com os outros, contra a sociedade.

A segunda é The Big Short, vencedor do Oscar 2016 para melhor argumento adaptado.

E, finalmente, uma imaterial obra que é a actual campanha de Bernard Sanders a candidato do partido Democrata à presidência dos EUA, campanha que deve terminar em breve, depois de resultados modestos na chamada “super terça-feira”.

O despedimento de 500 pessoas no Novo Banco e a absoluta trapalhada no sistema bancário nacional não devem ser vistos como incidentes ou casos passageiros. O sistema financeiro nacional é uma farsa, onde se emprestam milhões de euros a uma só entidade para a compra de automóveis.

Ou onde o afamado “fundo de resolução” do Novo Banco devia ter dinheiro de outros bancos mas, como estes não o têm, foram pedir emprestado à Caixa, que o inventou com o beneplácito do Estado e do Banco Central Europeu. O que, em última análise, faz do Novo Banco um bem público e sem necessidade de ser nacionalizado. Já cá canta a dívida.

A incógnita sobre o que vai acontecer decide-se alhures: lá longe parece que há a ideia de entregar a “jogatana”, como diria Jerónimo, ao Santander, o elefante ibérico: tudo o que esteja mal passa para o capitalismo com sede em Boadilla del Monte, um subúrbio madrileno.

Se for verdade, comete-se outra vez o erro de criar um monstro “grande demais para falhar”.

Porque será?

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