Década perdida é como apelidamos a década de 1980. O fortalecimento do neoliberalismo levou ao acirramento do desemprego, insegurança financeira, precarização das relações de trabalho, desarticulação entre os trabalhadores, a um aumento da terceirização e diminuição da proteção do Estado.
Aquele contexto de abandono foi matéria prima para a cultura de contestação que denunciava o individualismo e o empobrecimento da sociedade. Fazia muito sentido para os jovens e adultos aquela raiva toda nos versos de Declare Guerra, escrita em 1986. Além da crise social e econômica a música denunciava discursos políticos hipócritas que emergiam mirando a volta de eleições diretas depois de mais de 20 anos de ditadura. Por isso ela é um manifesto de alerta os cidadãos “declare guerra a quem finge te amar”.
Uma esquerda abalada pelo fim da guerra fria e uma igreja católica comandada por um Papa anticomunista, que trabalhou para desarticular setores progressistas, garantiam a desesperança política daquele momento. Até o Papa te esquece, só o inferno te aceita, ele diz.
Assim foram aqueles fatídicos anos de 1980. Mas Declare Guerra serve também para os dias de hoje. O Papa mudou, a sociedade chegou a evoluir. Mas desde 2016 vivemos um tsumani de retrocessos e hoje atingimos uma crise que faz os anos 80 parecerem anos dourados.
São quase 15 milhões de desempregados, inflação alta, carestia, aumento da fome, da miséria e crescimento da violência, escalada autoritária e, ainda por cima, uma peste que só víamos em livros de história, administrada por um governante insano e irresponsável. O normal caiu por terra e aquela parte que soava como certo exagero “Nem parece o mesmo, Tá ficando pirado, Onde você encosta dá curto, Você passa, o mundo desaba” tornou-se a realidade de milhões de brasileiros. A vida anda ruim na aldeia.
Declare Guerra
Composição: Renato Russo/1986
Intérprete: Barão Vermelho
Vivendo em tempo fechado
Correndo atrás de abrigo
Exposto a tanto ataque
Você tá perdido
Nem parece o mesmo
Tá ficando pirado
Onde você encosta dá curto
Você passa, o mundo desaba
E pra te danar
Nada mais dá certo
E pra te arrasar
Os falsos amigos chegam
E pra piorar
Quem te governa não presta
Declare guerra aos que fingem te amar
A vida anda ruim na aldeia
Chega de passar a mão na cabeça
De quem te sacaneia
Vivendo em tempo fechado
Correndo atrás de abrigo
Exposto a tanto ataque
Você ta perdido
E pra se ajudar
Você faz promessas
E pra piorar
Até o papa te esquece
E pra te arrasar
Só inferno te aceita
Declare guerra aos que fingem te amar
A vida anda ruim na aldeia
Chega de passar a mão na cabeça
De quem te sacaneia
Fonte: Centro de Memória Sindical
Texto em português do Brasil