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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

Beatriz Cal Brandão

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1914 – 2011)

Mulher de grande generosidade e inteligência, combatente da Resistência antifascista, presa política inúmeras vezes, destacou-se pela enorme capacidade de conciliar o quotidiano familiar e profissional com a luta na defesa dos grandes valores da solidariedade, da fraternidade, e pelos direitos das mulheres.

Biografia

Nascida no Porto em 1914, no seio de uma família de fortes convicções republicanas, Beatriz Magalhães de Almeida Cal Brandão foi a primeira mulher a licenciar-se em engenharia química e dirigiu uma fábrica de cerâmica em Vila Nova de Gaia. Teve uma vida marcada pela luta contra o salazarismo.

Militante antifascista desde a juventude, esteve presa diversas vezes, tendo sido durante uma das suas prisões que conheceu Mário Cal Brandão com quem casou e viveu durante toda a vida.

Nunca se alheou do combate em defesa dos mais desprotegidos e das mulheres, sendo considerada uma legítima continuadora do legado deixado por Adelaide Cabete, Ana Castro Osório, e tantas outras.

Foi fundadora do Partido Socialista, juntamente com o seu marido Mário Cal Brandão, entre outras figuras da oposição ao regime fascista.

Mário e Beatriz Cal Brandão

Acta que deliberou transformar o A.S P. em Partido Socialista

(1973), “Portugal Socialista”, nº 1, Ano VII, Agosto de 1973, CasaComum.org

Após Abril de 74

Depois do 25 de Abril, Beatriz Cal Brandão foi eleita deputada pelo PS em 1976 (Assembleia Constituinte) e exerceu funções durante várias legislaturas da AR, consecutivamente eleita pelo Círculo do Porto até 1985. Foi a primeira deputada a defender, no Parlamento, o direito à interrupção voluntária da gravidez.

Já com 84 anos, discursou nas celebrações do 25º aniversário do 3º Congresso da Oposição, em Aveiro.

Em 2010 foi homenageada durante o II Encontro Autárquico das Mulheres Socialistas, que decorreu no Porto.

Faleceu em 20 de Agosto de 2011, aos 97 anos, em Vila Nova de Gaia.

Beatriz Cal Brandão por Jaime Teixeira Mendes

O médico Jaime Teixeira Mendes, em 2012, deu um testemunho pessoal significativo acerca de Beatriz Cal Brandão, revelador da personalidade antifascista desta:

«Perseguido pela PIDE e querendo fugir para o estrangeiro estava escondido em casa amiga no bairro da Boavista, esperando as condições necessárias para passar a fronteira a salto. Por razões alheias à minha vontade fui obrigado a sair rapidamente desse abrigo. Depois de uma viagem atribulada pelo Minho, desde Viana até ao Porto, em que as portas de muitos antifascistas se fecharam, vim parar à célebre moradia de Gaia dos Cal Brandão.

Acolheram-me imediatamente, sem saberem a minha verdadeira identidade, era apenas um jovem fugido à polícia que precisava de ajuda. Para eles eu era o César, pseudónimo que utilizava à época. Na casa de Vila Nova Gaia, com o seu grande jardim convivi intensamente quase durante um mês com Beatriz Cal Brandão. A memória que guardo é de uma senhora carinhosa, muito simples e de trato fácil. Foi para mim uma segunda mãe que muito me ajudou numa situação difícil. Beatriz pertencia àqueles portugueses que arriscavam a sua liberdade para proteger outros perseguidos políticos com um sentido de solidariedade. Na sua casa passaram inúmeros jovens que se escondiam da PIDE, quer por motivos políticos quer por se recusarem a combater na injusta guerra colonial. Só muito mais tarde é que Beatriz e Mário, vieram a saber que tinham escondido o filho de um dos seus amigos e correligionário desde a juventude, Abílio Mendes. Beatriz e Mário Cal Brandão não morreram, ficam para sempre gravados na minha memória. Nas notas secas dos obituários, a figura de Beatriz Cal Brandão, está registada como uma das fundadoras do Partido Socialista, a primeira mulher a licenciar-se em engenharia química e ex presa política. Após o 25 de Abril, foi eleita deputada pelo PS, exerceu funções durante várias legislaturas e foi a primeira deputada a defender, no Parlamento, o direito ao aborto. Morre aos 97 anos. Morre como viveu sem grandes parangonas nos Jornais ».

Homenagem a Beatriz Cal Brandão

Dados biográficos:

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