O fim da labuta, o pensar operário, suas perguntas sem respostas, na poesia do poeta cearense Belchior.
Depois das seis
Belchior/1980
Intérprete: BelchiorQuando a fábrica apitou e o trabalho terminou,
todo mundo se mandou,
sem desejos de voltar.
Como o mar não tá pra peixe,
ai, mulata, não nega teu cabelo.
E, aproveitando esta deixa,
vem viver, me comer, vem me dar,
renascer, descansar.O sol posto
enxuga o suor do meu rosto,
que eu não sou cativo por gosto:
estou vivo e berrando da geral.
E a moçada é quem faz de fato a festa,
em cidade como esta,
onde ser gente é imoral.
– Conheço a lua
e não conheço o meu quintal.
– A culpa é tua.
Eu cantei todo esse mal.Quando a fábrica apitou e o trabalho terminou,
todo mundo se mandou,
sem desejos de voltar.
Como o mar não tá pra peixe,
ai, mulata, não nega teu cabelo.
E, aproveitando esta deixa,
vem viver, me comer, vem me dar,
renascer, descansar.Eu… A andorinha
contou que, sozinha,
canta, mas não faz verão.
Tem boi na linha.
É o mesmo trem, a mesma estação.
Resumindo:
-Até logo, eu vou indo.
Que é que estou fazendo aqui?
Quero outro jogo,
que este é fogo de engolir.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado
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