Documentário ‘Fuocoammare’ vence Urso de Ouro
Tal como se previa, a premiação deste festival teve uma marca inevitavelmente política e social. De um lado, o documental italiano sobre os refugiados Fuocoammare, com o prémio máximo; Death in Sarajevo/Morte em Sarajevo, do bósnio Danos Tanovic, avaliando as feridas profundas e seculares cravadas na Europa central, venceria o Prémio do Júri. O português Cartas de Guerra ficou arredado dos prémios.
O vencedor potencial desde o início do festival tornou-se inevitável no final.
Sem surpresa, o documentário ‘Fuocoammare’ (ou ‘Fogo no Mar’), do realizador italiano Gianfranco Rosi, foi o eleito pelo júri presidido por Meryl Streep.
Registe-se, como curiosidade, que é a primeira vez que um documentário vence o Urso de Ouro. Um prémio merecido já que combina de forma coerente a tragédia daqueles que tentam chegar pelo mar até à costa da ilha de Lampedusa, muitos deles já sem vida, fugindo das múltiplas tragédias em África e no Médio Oriente, mas também a perspectiva da comunidade local encarada pelo olhar inocente de um miúdo filho de pescadores.
Rosi consegue assim elevar uma vez mais o cinema documental ao prémio cimeiro dos festivais internacionais, ele que já ganhara um Leão de Ouro, em 2013, no festival de Veneza, com o filme Santo Gra.
Ao receber o prémio, Rosi não se esqueceu de agradecer às pessoas de Lampedusa, sempre abertas a receber novos refugiados, mas sobretudo por serem pescadores que aceitam tudo o que o mar lhes dá.
O bósnio Danis Tanovic venceria o Urso de Prata para o Grande Prémio do Júri, com Death in Sarajevo, uma espécie de segundo lugar.
Já o filipino Lav Diaz viu premiada a sua obra de oito horas A Lullaby to the Sorrowful Mystery, que dominou um dia inteiro de sessão, apenas com um intervalo de uma hora, venceu o Urso de Prata para o prestigiado prémio Alfred Bauer, atribuído a um filme que abre novas perspectivas.
Lav gracejou ao receber o prémio dizendo que se travava de um short film. Mas dedicou o prémio a todos os realizadores que acreditam que o cinema pode mudar o mundo.
Foi precisamente este prémio que foi concedido a Miguel Gomes, quando venceu em Berlim com o filme Tabu, em 2012.
Quanto aos prémios de interpretação foram entregues à actriz dinamarquesa Trine Dyrholm pelo seu trabalho no filme de Thomas Vinterberg The Commune, e ao tunisino Majd Mastoura, pelo seu empenho em Inhebbek Hedi.
Esta é a realização de um sonho, disse no seu discurso de agradecimento. Um prémio que dedicou a todos os mártires da revolução e liberdade de expressão.
“Espero que possamos continuar a ser livres, felizes e produzir bons filmes.”
Trine Dyrholm
A distinção para o trabalho de realização foi para a francesa Mia Hansen-Love, por L’Avenir, ao passo que o melhor guião foi ganho pelo polaco Tomas Wasilewski, por United States of Love.
De referir que o júri desta 66ª edição incluiu também os actores Clive Owen, Alba Rohrwacher, Lars Eidinger, a realizadora polaca Malgorzata Szumowsksa, a fotógrafa Birgitte Lacombe e o crítico Nick James.
Palmarés do Festival de Berlim:
Prémios do júri international
- Urso de Ouro para Melhor Filme: Fuocoammare, Gianfranco Rosi
- Urso de Prata Grande Prémio do Júri: Death in Sarajevo, Danis Tanovic
- Urso de Prata Alfred Bauer: A Lullaby to the Sorrowful Mystery, Lav Diaz
- Urso de Prata para Melhor Realizador: Mia Hansen-Love, “L’Avenir”
- Urso de Prata para Melhor Ator: Majd Mastoura, Inhebbek Hedi
- Urso de Prata para Melhor Atriz: Trine Dyrholm, Kollektivet (The Commune)
- Urso de Prata para Melhor Guião: Tomas Wasilewski, United States of Love
- Urso de Prata para contribuição artística: Mark Lee Ping-Bing, fotografia, Chang Jiang Tu
Prémios Melhor Curta
- Urso de Ouro Melhor Curta: Balada de um Batraquio
- Urso de Prata Prémio do Júri: A Man Returned
- Prémio Audi: Jin Zhi Xia Mao
GWFF
- Melhor Primeira Obra Longa Metragem: Inhebbek Hedi