Previ eu na edição desta coluna de dez de Julho, que a novela da Cocaína na Casa Branca iria ocupar o nosso Verão mediático, por uma razão essencial: não sendo possível esconder por mais tempo os negócios milionários protagonizados pelo clã Biden com as mais variadas potências internacionais, a única estratégia comunicacional possível para a Casa Branca é a de fazer de Hunter o centro das atenções e fazer crer que não se trata de crime organizado pelo clã com a cobertura empenhada da máquina do Estado, nomeadamente da chamada ‘comunidade de inteligência’ e do Ministério da Justiça.
A realidade acabou por ser algo diferente, com os responsáveis federais a produzir versões contraditórias sobre o local onde tinha sido encontrada a cocaína e sobre as deslocações de Hunter Biden na Casa Branca para, seguidamente, em meia dúzia de dias, fecharem o inquérito de forma abrupta e inconclusiva. Durante esses dias, nunca qualquer dos responsáveis políticos democratas teve a coragem de se demarcar do discurso hipócrita da moral conservadora com o qual o tema foi prosseguido: se os EUA estão minados pela droga (e como então disse, esse é o real problema), como seria possível manter a Casa Branca à margem dessa realidade?
Os estrategos da administração americana resolveram antes prosseguir a mesma estratégia através de um instrumento diverso, com a nomeação de uma Comissão Especial de Inquérito a Hunter Biden, nomeando como responsável do mesmo precisamente o funcionário que mais se notabilizou a encobrir os negócios de Hunter Biden nos últimos anos.
O problema não é o de saber se a comissão é ilegal (e o Professor Alan Dershowitz, assegura que é ilegal), ou mesmo o absurdo de inquirir sobre Hunter quando o Congresso provou que o negócio envolvia a família, e não apenas Hunter, ou mesmo investigar a frágil linha de defesa democrata do Presidente: dezenas de milhões de dólares foram pagos por múltiplas entidades estrangeiras à família Biden, com o intuito de influenciar a política dos EUA, mas Joe Biden, de nada sabia e os que fizeram pagamentos foram enganados.
Quem deveria ser investigado em primeiro lugar é quem mentiu e encobriu o escândalo durante anos a fio, a começar pelo Procurador Geral (que é no nosso sistema constitucional o Ministro da Justiça) que nomeou a comissão de inquérito, e foi de resto isso que afirmaram responsáveis da oposição política americana.
O empolamento da toxicomania do filho do Presidente serve para esconder o problema substancialmente mais grave que é o da transformação da actividade política em negócio de corrupção internacional. Mas mais grave ainda que isso é ver as instituições estatais supostamente independentes a cobrir de forma prolongada e sistemática essa situação.
As consequências deste estado de coisas são enormes para todos nós.