Começou a contagem de votos na Birmânia, depois das primeiras eleições livres em 25 anos. Cerca de 80% dos mais de 30 milhões de eleitores participaram no escrutínio, disse à agência AFP Thant Zin Aung, representante da comissão eleitoral.
Os birmaneses tinham um menú com mais de 90 partidos, mas a liderança disputava-se entre o partido no poder ligado aos militares (Partido para a Solidariedade e o Desenvolvimento, USDP), e a Liga Nacional para a Democracia (LND) de Aung San Suu Kyi, a oposicionista e Nobel da Paz em 1991 que esteve 15 anos em prisão domiciliária.
Estas eleições parlamentares são consideradas um passo importante para a transição democrática iniciada há quatro anos, com a autodissolução da junta militar que governou o país desde 1962. Uma norma constitucional introduzida pelos militares impede Suu Kyi de assumir a presidência do país e esta situação foi evocada pelos analistas políticos que antes do escrutínio avançaram receios de que surjam tensões em torno da eleição do presidente, que deverá acontecer no parlamento dentro de alguns meses.
Segundo o chefe da missão de observadores da União Europeia, Alexander Lambsdorff, não foram registados incidentes graves, uma informação que não abrange ainda todas as mesas de voto no país. “Não vimos, por exemplo, dificuldades com a identificação dos eleitores nas listas de votos aqui em Yangon, veremos se no interior foi diferente”, disse Lambsdorff.
A Nobel da Paz não escapou a críticas durante a campanha eleitoral, acusada de manter silêncio sobre a situação da minoria muçulmana Rohingya. Suu Kyi não visitou o norte de Arakan, onde se concentraram 100 mil membros desta etnia, depois dos conflitos violentos de 2012. As autoridades birmanesas retiraram aos Rohingya o direito de voto e por isso não puderam participar nas eleições, pela primeira vez depois da independência em 1948. O partido de Suu Kyi ganhou as eleições em 1990, com uma vantagem significativa, mas a carismática oposicionista estava sob prisão domiciliária e foi impedida pelos militares de tomar posse.xército continua a manter na Birmânia uma influência de peso sobre as decisões políticas. 25% dos lugares nas câmaras alta e baixa do parlamento estão reservados a deputados militares, designados pelo chefe do Estado Maior. Isto significa que, para conseguir uma real maioria nas duas câmaras, a LND, que conta com o apoio dos generais, terá que conquistar pelo menos 330 lugares, isto enquanto o USDP precisa apenas de obter 33% dos assentos parlamentares.
Nelson Rodrigo Pereira, em Genebra, Suíça