Desde 2006 que existe a celebração dominical greco-católica ucraniana em Torres Vedras e desde 2010 que tem lugar na igreja de Santa Maria do Castelo.
No dia 19 de Janeiro a celebração foi especial, já que contou com a presença pela primeira vez em Portugal do bispo Hlib Lonchyna, radicado em Londres.
“A igreja mais antiga ao serviço da comunidade mais nova”. Foi com esta frase que o padre Natanael Mykola Harasym descreveu o exercício do rito bizantino destinado aos imigrantes que o seguem, maioritariamente ucranianos. A data já era especial, com a celebração da Epifania ou, como explicou o padre Natanael, da Teofania, a segunda manifestação do Senhor ao receber o Baptismo. É a segunda data mais importante a seguir ao Natal, que os fiéis da igreja greco-católica festejam a 7 de Janeiro, de acordo com o calendário juliano.
Esta celebração teve um pouco mais de gente do que é habitual, mas a igreja costuma ser sempre muito participada, num rito que dura aproximadamente três horas. A seguir à liturgia de São Crisóstomo houve outro momento de grande significado, o sacramento da bênção das águas.
“No dia da Teofania celebramos o Baptismo do Senhor quando Jesus entrou no rio Jordão e santificou as águas. As pessoas levam essa água para beber e aspergem as suas casas e também as suas propriedades”, explicou o padre Natanael sobre o facto de toda a gente ter levado os mais variados recipientes com água para ser benzida.
Quando estão doentes bebem também esta água. Não é magia, é o símbolo do amor de Deus por nós, Deus deseja o nosso bem, para nos curar e lavar os nossos pecados, é isso que simboliza a água jordânica, não é fisicamente do rio Jordão mas tem as mesmas propriedades”
“Quando estão doentes bebem também esta água. Não é magia, é o símbolo do amor de Deus por nós, Deus deseja o nosso bem, para nos curar e lavar os nossos pecados, é isso que simboliza a água jordânica, não é fisicamente do rio Jordão mas tem as mesmas propriedades”, reforçou o bispo Hlib Lonchyna com quem falámos no final da celebração.
A greco-católica ucraniana é uma das igrejas orientais que segue o rito litúrgico bizantino. Tem actualmente cerca de 10 milhões de fiéis, metade dos quais fora da Ucrânia. É considerada a maior igreja oriental em comunhão com o bispo de Roma, o papa Francisco.
“Somos todos católicos, mas nós somos de outro rito oriental, na qual estas pessoas nasceram e conhecem, celebramos na língua deles e crescem espiritualmente, mantendo o rito ao qual estavam habituados, inclusivamente a própria língua materna”, detalhou o bispo Hlib Lonchyna.
Monsenhor Hlib Lonchyna é o bispo (ou exarco) responsável pelos fiéis ucranianos de rito bizantino na Inglaterra. Filho de pais ucranianos, nasceu nos Estados Unidos, onde foi ordenado sacerdote em 1977. Em 2002 foi nomeado bispo de Bareta.
Sobre o significado de ter estado em Portugal, referiu sentir-se bem a servir as pessoas: “tentamos manter as nossas igrejas porque para as pessoas é importante ter o seu rito e as suas tradições. Manter a ligação à sua terra de origem”. Não é fácil sair da sua terra, para um país com uma língua completamente diferente, para poderem melhorar a vida. Renovar a sua fé ajuda-os a ultrapassar as dificuldades.
Em que medida é importante ter esta ligação à Ucrânia? “Obviamente que a assimilação cultural é inevitável, mas é importante manter a língua materna e a cultura de origem”, respondeu o padre Natanael Harasym. Para o bispo Hlib Lonchyna “o povo ucraniano está grato aos portugueses, porque é uma ajuda mútua, ucranianos podem trabalhar cá e ajudar os seus familiares e também ajudam Portugal. Os ucranianos também rezam por Portugal”. Pedimos ao bispo Hlib Lonchyna uma mensagem final para os portugueses:
Desejo que não só os ucranianos mas todas as pessoas de boa vontade vivam os valores do Evangelho, porque esses valores é que dão felicidade. O que o mundo propõe é muitas vezes uma ilusão, só procura explorar ao máximo as pessoas, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres. Que Deus todo o poderoso e misericordioso esteja com este povo nesta terra de Santa Maria”.