(1922 – 2004)
Cidadão de rica e multifacetada personalidade, era um homem afável, de grande inteligência e cultura, solidário, corajoso, perseverante, convicto e convincente nos seus ideais, com grande preparação ideológica. Combatente pela Liberdade, conheceu a dureza da clandestinidade, da privação da companhia de familiares e amigos, da perseguição política, da prisão e da tortura. Foi um destacado drigente do PCP: funcionário do partido desde 1948, exerceu funções de elevada responsabilidade, integrando o Comité Central a partir de 1952, durante quase 50 anos.
Luta a tempo inteiro
Fernando Blanqui Teixeira nasceu em Coimbra em 4 de Maio de 1922 e faleceu aos 82 anos.
Engenheiro químico de formação académica – um intelectual que poderia ter tido a vida desafogada e confortável da generalidade dos seus colegas de profissão – fez uma corajosa e consciente opção de luta a tempo inteiro, contra o fascismo e o capitalismo, a que foi fiel toda a sua vida. Nunca esmoreceu na justeza do projecto revolucionário do seu Partido.
Exerceu funções de elevada responsabilidade no PCP, integrando o Comité Central a partir de 1952, durante quase 50 anos.
Em 1944 aderiu à Federação das Juventudes Comunistas e, nesse mesmo ano, ao PCP, quando estudava no Instituto Superior Técnico e aí desenvolvia intensa actividade associativa. Foi membro da Direcção de Estudantes do IST, tendo vindo a ser afastado desta escola por perseguição política. Aluno brilhante, formou-se em Engenharia Químico-Industrial em 1945 com a mais alta classificação do seu curso, chegando a ser (não oficialmente) assistente da cadeira de Química Geral. Logo aí revelou qualidades que o tornaram conhecido e respeitado entre os colegas e na sua classe profissional.
Em 1948 tornou-se funcionário do PCP e mergulhou na clandestinidade, realizando as mais variadas tarefas técnicas e de organização, nomeadamente como membro da Direcção Regional de Lisboa e de outros organismos de Direcção Regional.
Blanqui Teixeira foi preso pela PIDE em 1957, mas fugiu no ano seguinte, aproveitando uma deslocação ao Hospital de São José.
Detido novamente em 1963[1], foi julgado e condenado no Tribunal Plenário fascista, e passou mais oito anos na prisão. Só saiu da cadeia em 1971, na sequência de uma importante campanha pela sua libertação. A imagem de integridade e afabilidade que deixara em colegas e amigos contribuiu fortemente para o notável movimento de solidariedade cívico que mobilizou muitas centenas de engenheiros e no qual a própria Ordem se empenhou activamente. .
Blanqui Teixeira depois da clandestinidade
Dirigentes do PCP: (de pé) Jaime Serra, Sérgio Vilarigues e Blanqui Teixeira, (sentados a contar do lado esquerdo) António Dias Lourenço, Álvaro Cunhal, José Vitoriano, Joaquim Gomes e Octávio Pato (Fotografia de Eduardo Gageiro)
Depois do 25 de Abril, Blanqui Teixeira foi eleito como deputado por Coimbra à Assembleia Constituinte (1975). Foi responsável pela Organização Regional das Beiras entre 1974 e 1975, pela Comissão de Organização e pelas organizações do PCP nos Açores, na Madeira e na Emigração. Ocupou-se da área da Defesa Nacional e foi, desde 1975 até ao ano 2000, director de “O Militante”, Boletim de Organização, e Revista central do Partido.
Membro da Comissão Política desde 1975 até 1988, do Secretariado entre 1979 e 1996 e da comissão central de controlo entre 1996 e 2000, abandonou depois os órgãos de direcção central.
Blanqui Teixeira era um homem muito respeitado e admirado por quem conviveu ou trabalhou com ele. Na alocução proferida no seu funeral, o dirigente do PCP Albano Nunes destacou “o perfil humano e de militante de Blanqui Teixeira ao serviço da causa dos trabalhadores, da democracia e do socialismo”, referindo-se-lhe nestes termos:
Um daqueles “indispensáveis” de que nos fala o belíssimo e sempre actual e inspirador poema de Brecht. Vamos sentir a sua falta, sobretudo aqueles que mais de perto com ele trabalharam ou conviveram e que mais próximos estiveram tanto do seu elevado nível de exigência para consigo e para com os outros, como da sua prodigiosa memória ou do seu fino sentido de humor. Não esqueceremos nunca a sua profunda compreensão do carácter insubstituível da Organização partidária e do valor do trabalho colectivo, a sua verdadeira paixão pelo trabalho de construção do Partido, o empenho que procurava incutir em todos os militantes na realização de tarefas tão elementares quanto decisivas, como o recrutamento, a constituição de organismos, a formação política e ideológica de quadros, a difusão do “Avante!” e de “O Militante”, a recolha de fundos para o Partido”.
Quando faleceu, dedicava todas as suas forças e energias às tarefas da Comissão Concelhia do PCP do Barreiro – organização em que militava nos últimos anos, na terra que muito amou.
[1] A prisão de Blanqui Teixeira em 1963 ocorreu em Coimbra. A sua casa (clandestina) situava-se à entrada do actual Bairro Norton de Matos (Rua Daniel de Matos). Na ocasião, a Pide entrincheirou-se dentro dessa casa esperando apanhar outro funcionário. Por engano bateu à porta uma senhora da burguesia Coimbrã que ia visitar um familiar que vivia noutro apartamento e os pides caíram-lhe em cima e sovaram-na fortemente… ( Informação de Vasco Paiva).
Dados biográficos:
- «O Militante» – N.º 273 Novembro/Dezembro de 2004
- Jornal Avante: Morreu Blanqui Teixeira – Um exemplo de revolucionário
- Jornal Público: – Morreu o antigo deputado comunista Blanqui Teixeira
- PCP: Faleceu Blanqui Teixeira
Com colaboração de Vasco Paiva