Pela segunda vez desde o início do ano Pequim fechou à pressa a bolsa nacional, depois de uma queda que chegou aos sete por cento. O país dos dois sistemas sofre agora o que, outrora, Portugal sofreu: os pequeninos investidores começaram a jogar na bolsa para fazer dinheiro e, através de um sistema parecido com um seguro de valor das acções, vendem tudo para, espante-se, fazer mais dinheiro ou, pura e simplesmente, safar-se de “perdas e danos”.
O caso é bem explicado pelo The Guardian e tem consequências no mercado da especulação global. O que acontece a Oriente está a afectar todo o mundo. As empresas chinesas e a maior parte das empresas asiáticas e indianas, subsidiárias do mercado oriental e do mercado global, têm as suas dívidas em dólares. Ora, o dólar é ainda a moeda forte do mercado da energia. O petróleo, essa maldita gosma que faz andar o planeta, está de borla por causa de uma birra entre a Arábia Saudita e o Irão. Isto é, sunitas e xiitas em pancadaria religiosa. As empresas chinesas perdem valor quando o dólar se torna caro.
Entretanto, a península arábica está a ferro e fogo, com o assustador número de 16 milhões de deslocados ou refugiados a correr das guerras, segundo António Guterres, antigo Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. Diz o português que “o mundo está hoje mais perigoso do que há dez anos” – cita-se entrevista à RTP3 desta quarta-feira.
Pois está. Está mais perigoso porque finalmente estamos todos ligados e quando uma família chinesa decide desfazer-se de acções em Xangai o custo dos chapéus de chuva aumentam em Braga e, logo a seguir, os bracarenses temem, por ter menos dinheiro e menos conforto, que os refugiados xiitas venham a custar-lhes o pouco pecúlio que ainda resta para impostos e alimentação.
Na verdade não se globalizou coisa nenhuma a não ser o dinheiro. Este não está nas mãos de todos, apenas ao serviço de alguns. O medo de um terrorista devia ser muito menor do que o medo de um agiota. Obama bem pode chorar – até com razão -, por causa das armas usadas por loucos no seu país. Mas ou decidimos globalizar os três valores sociais de sempre, a liberdade, a solidariedade e a igualdade, ou estamos no caminho da distopia. O puto meio-careca da Coreia do Norte sabe disso e aproveita-se.
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