A ver se entendi ou se entendo o que vem acontecendo no meu país. E adianto que esse desabafo não passa de recortes difusos. Coisas que ouvi, li e senti.
A ver se entendi ou se entendo o que vem acontecendo no meu país. E adianto que esse desabafo não passa de recortes difusos. Coisas que ouvi, li e senti. Vamos a isso:
Está claro que o sistema atual é destrutivo. A locomotiva capitalista é de uma lógica cancerígena de replicação e metástase. E para reverter esse quadro é preciso haver um novo tipo de pacto social e porque não dizer afetivo nas mentes e corações de todos os envolvidos. E quando digo todos me refiro desde ao senhor que descansa o traseiro no Ministério quanto ao vendedor de pastéis na Central do Brasil. O sujeito somos nós. Não um ser abstrato sentado em uma nuvem distante ou um ente de pele vermelha a sorrir entre dentes enquanto mexe um caldeirão nas profundezas. Não. O sujeito somos nós. Uma vez entendido isso, sigamos.
Esse sujeito então vem se adaptando aos diversos cenários a ele apresentados. E a impressão de que se tem controle sobre alguma coisa produz seres de uma morfologia bastante interessante e por vezes bastante assustadora. Vejamos, por exemplo a atual classe “dominante”. O medo da perda de uma hegemonia de pensamento heteronormativa de fundo religioso tira o protagonismo desse sujeito. E sujeitos que possuem pouco poder de negociação do seu próprio valor perdem-se na bruma de desespero da grande massa e viram um grande cardume de vulnerabilidade. E o que é necessário para atrair a atenção de um cardume faminto? Uma promessa de alimento. O mais básico que seja.
Ontem foi prometido a esse sujeito o assistencialismo e o olhar igualitário. Algo quase parecido como o amor paternal. Hoje, instalado o caos que essa pater figura criou após provar que não era em nada perfeito, temos outra figura também paternal a comandar o leme do país. O avatar da vez desse povo carente de entendimento é o militarismo. Aquilo ou aquele que provém a segurança a qualquer custo. Afinal está tudo tão assustadoramente livre que é preferível delegar a responsabilidade de pensar a alguém. Pois que pensar é temeroso. E quem exprime o pensamento deve ser temido, detido, exterminado.
A evolução subjetiva da sociedade que espalha o direito a ser sujeito a todos arrasta consigo toda a lógica patriarcal. E então o movimento de defesa se instala de modo bruto e apressado se intitulando orgulhosamente de conservador.
A lógica para-miliciana replica a frase do presidente que diz que um povo armado jamais será escravizado. Ou seja, não sabemos como argumentar contra a perda de um lugar de potência fálica e para isso fazemos guerra.
Enquanto na ditadura lutava-se em favor da liberdade, hoje luta-se para evitar o excesso dela ou a impressão de excesso e falta de controle que ela pode trazer às mentes pouco preparadas para o que chamamos de evolução social.
Uma das grandes matrizes do Bolsonarismo é ideia de perdição desse novo universo que se configura. Como se a pós-modernidade fosse apenas uma permissividade irresponsável. O mesmo se dá com a lógica Trump que é o América First. A todos os americanos o direito de gozar a sua excepcionalidade. Excepcionalidade que se prende no gozo de que são a exceção do mundo e que portanto, é impossível se colocar numa situação de alteridade e com ela aprender. Vide o Corona vírus.
Mas eis que mesmo em meio à severas convulsões o trator do evoluir humano não arrefece sua curiosíssima engrenagem. Seja através da força, da beleza ou da mais crua brutalidade, o progresso humano, para o bem ou para o mal, não cessa.
Talvez ainda teremos Bolsonaro em 2022. Mas devo dizer que a família tradicional cristã heteronormativa não vai vencer. Aliás, ninguém vai. Nem os homens vestidos de branco, nem as meninas de rosa, nem os meninos de azul e tampouco os homens pintados de vermelho. Ninguém vai vencer. Tudo será um grande perda. Mas se dessa grande derrota, dessa grande amálgama pós guerra emergir um ser (ou Oxalá, meia dúzia deles) mais sensível e mais consciente, já estará de bom tamanho…
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