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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Bolsonarismo empurra “nova classe C” de volta à pobreza extrema

Um dos mais importantes feitos do ciclo de governos progressistas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, a formação da chamada “nova classe C”, está no caminho da volta para um elevado grau de pobreza.

Reportagens do jornal Folha de S. Paulo de sábado (24), com base em pesquisas de diferentes órgãos, mostram que o fenômeno decorre da Covid-19 e da desorganização das políticas de mitigação da pandemia do governo Bolsonaro.

O jornal mostra também que a desigualdade de renda no mundo, que vinha crescendo, se acentuou, e os bilionários, que ocupam o ponto mais alto da pirâmide social, ficaram ainda mais bilionários. De acordo o Índice de Bilionários da Bloomberg (agência de notícias e empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro) de 2020, a fortuna total dos 500 mais ricos do mundo cresceu 31% em comparação ao ano anterior.

As consequências da pandemia são evidentes, mas não explicam, por si mesmas, essas anomalias. Há uma predominância, entre as causas desses indicadores, é a orientação econômica de matriz neoliberal. Para entender suas origens no Brasil é necessário voltar no tempo e analisar como a ascensão social tirou milhões de brasileiros da invisibilidade e criou um mercado de consumo de massa. De 2003 a 2015, informa o Instituto Lula, a mobilidade social no país deixou de acontecer apenas no plano individual para ser um amplo fenômeno social.

Foram mais de 40 milhões de brasileiros da classe trabalhadora que ascenderam à “classe C”, conforme nominação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Políticas públicas como o fomento ao emprego e aumento real do salário-mínimo foram determinantes. Mesmo políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, deram enorme contribuição para essa mobilidade social.

Segundo informa o Instituto Lula, o mercado de consumo brasileiro em 2003 era sustentado por 45,2% da sua população, que representava as “classes” de renda A, B e C. As “classes” D e E possuíam baixa capacidade de compra. A entrada de novos consumidores no mercado gerou compras, produção, investimentos e milhões de empregos. Segundo o instituto Data Popular, a “nova classe C” chegou a ser responsável por 78% das vendas dos supermercados, 60% do faturamento nos salões de beleza e 70% das compras com cartão de crédito.

São várias as causas desse enorme retrocesso, mas o fundamental é o abandono de qualquer possibilidade de crescimento econômico com inclusão social. A desindustrialização do país, decorrente de históricos desajustes macroeconômicos – sobretudo após a hegemonia do projeto neoliberal –, conta muito, mas a essência é a ausência do papel regulador do Estado por meio dos seus instrumentos democráticos, com investimentos e fomento, para conter as investidas despóticas do mercado financeiro.

O desenvolvimento do país deve, sim, ser uma constante meta nacional. Sem um horizonte claro, não há como destravar a economia. Crescimento sustentado quer dizer que o país consegue financiá-lo de forma não-inflacionária e sem pressões externas. Infelizmente a economia brasileira, combalida pela gestão desastrosa dos anos da ditadura militar e da “era neoliberal”, mal começou a deslanchar, nos governos Lula e Dilma, quando houve o retrocesso iniciado com o golpe do impeachment de 2016.

O Brasil voltou aos ditames dos que pedem mais “estabilidade” mesmo à custa de menos produção e menos investimentos público e privado. O desafio agora é fazer o país romper com o governo Bolsonaro, que acentuou essa tendência excludente, e retomar a sua vocação para o desenvolvimento com progresso social. Precisa ampliar e distribuir a riqueza, reintegrando à economia os milhões de brasileiros que estão voltando a ser excluídos da categoria de cidadãos.


Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado


 

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