A viagem de Bolsonaro a Israel mostrou a ausência de projeto para o país do atual governo. Depois do vexame no Fórum Econômico Mundial, e da vergonhosa manifestação de subalternidade nos EUA, Bolsonaro foi à Israel atrapalhar o comércio exterior do Brasil e não conseguir nenhuma vantagem com o suposto novo aliado.
O discurso antipetista de que os governos Lula e Dilma faziam políticas externas “ideológicas” fica cada vez mais ridículo perto da atuação do atual governo.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro prometeu transferir a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém. Essa é uma reivindicação apenas de setores mais radicais da direita sionista, e de alguns setores evangélicos no Brasil. Apenas dois países, EUA e Guatemala, fizeram esse gesto que é mais de hostilidade ao povo palestino do que de amizade a Israel. Além disso, o presidente brasileiro sempre procurou uma aproximação ideológica com a direita israelense, o atual primeiro ministro Benjamin Netanyahu fez a primeira viagem de um líder israelense para uma posse presidencial no Brasil após a vitória de Bolsonaro. Portanto, declaradamente a política externa brasileira, liderada pelo chanceler olavista Ernesto Araújo, busca aproximação com EUA e Israel.
No entanto, o Brasil tem interesses estratégicos muito diversos do que a atual política externa busca privilegiar. Os EUA tem uma guerra comercial com a China, o principal parceiro comercial brasileiro, que ao sofrer hostilidades do governo de Bolsonaro responde com diminuição de importações e conciliação com os EUA. Os americanos por outro lado buscam fazer o Brasil abrir mão de suas vantagens comerciais na OMC, oferecendo um suposto apoio à entrada do Brasil na OCDE, o que não dá vantagens comerciais ao Brasil, e sequer tem real perspectiva de acontecer.
Em relação a Israel, os interesses brasileiros são ainda fragilizados, porque o comércio com os israelenses é pequeno e desfavorável ao Brasil, com déficit de cerca de 840 milhões de dólares. A promessa de transferência da embaixada para Jerusalém gerou reações da comunidade palestina e dos países árabes, que são grandes consumidores da pecuária brasileira. O Brasil tem superávit comercial com os países árabes de cerca de 4 bilhões de dólares. Inclusive, os produtores brasileiros fazem grandes esforços para se adequarem à padrões islâmicos na forma de produção para poderem exportar para esses países.
Bolsonaro foi a Israel para se encontrar com Netanyahu, o líder de extrema-direita do país, que busca usar politicamente a visita do brasileiro, pois enfrenta acusações de corrupção e está em campanha para as eleições israelenses que ocorrem esse ano. Por outro lado, o governo brasileiro sequer tem visitas agendadas com países ou líderes árabes.
Pois bem. Bolsonaro conseguiu a proeza de desagradar os palestinos e árabes, mas também os israelenses! A comitiva brasileira decidiu por não transferir a embaixada, mas abrir um “escritório comercial” em Jerusalém, uma suposta “solução intermediária”. Além disso, Bolsonaro deu declarações desencontradas, dizendo que a transferência da embaixada é questão de tempo, e desdenhou da reação árabe afirmando que os palestinos tem “direito de reclamar”. Os israelenses deixaram clara sua insatisfação com o recuo na questão da embaixada, e tanto a Autoridade Palestina (representação política dos palestinos na ONU), como o Hamas (organização religiosa que controla a Faixa de Gaza), emitiram declarações atacando a postura do governo brasileiro.
A política externa de Bolsonaro, controlada por um já desmoralizado diplomata de segundo escalão, é a política externa mais ideologizada da história do Brasil. Rompendo muitas décadas de política externa independente, alinhada aos interesses nacionais e não de potências estrangeiras. Bolsonaro alinha ao Brasil a interesses estrangeiros, e só. Todo o discurso antipetista era só isso, discurso.
por Luiz R. M. Cardia | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV (Portal Disparada) / Tornado