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Sábado, Novembro 2, 2024

Bolsonaro insulta repórter da Folha com insinuação sexual

Declaração foi referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp

O presidente Jair Bolsonaro insultou nesta terça-feira (18), com insinuação sexual, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha. “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim ”, disse o presidente, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada.

A declaração do presidente foi uma referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPMI das Fake News no Congresso.

O depoimento à comissão foi de Hans River do Rio Nascimento, que trabalhou para a Yacows, empresa especializada em marketing digital, durante a campanha eleitoral de 2018.

Em dezembro daquele ano, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos do depoente Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

Já na CPMI, diante de deputados e senadores, ele deu informações falsas e insultou Patrícia, uma das autoras de reportagem sobre o uso fraudulento de nomes e CPFs para permitir o disparo de mensagens.

Presente à sessão, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, aproveitou a fala de Hans para difundir ofensas e fazer insinuações contra a repórter da Folha, tanto no Congresso como em suas redes sociais.

Sem apresentar provas, Hans afirmou que Patrícia queria “um determinado tipo de matéria a troco de sexo”, declaração reproduzida em seguida por Eduardo Bolsonaro nas redes sociais.

Nesta terça-feira, em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro falou sobre o caso.

“Olha a jornalista da Folha de S.Paulo. Tem mais um vídeo dela aí. Não vou falar aqui porque tem senhoras aqui do lado. Ela falando: ‘Eu sou (…) do PT’, certo? O depoimento do Hans River, foi final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele”, diz o presidente, para em seguida, aos risos, fazer o insulto com insinuação sexual.

“Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim . Lá em 2018 ele já dizia que ele chegava e ia perguntando: ‘O Bolsonaro pagou pra você divulgar pelo Whatsapp informações?’ E outra, se você fez fake news contra o PT, menos com menos dá mais na matemática, se eu for mentir contra o PT, eu tô falando bem, porque o PT só fez besteira.”

“Tem um povo aqui em referência a um grupo de simpatizantes], alguém recebeu no zap uma matéria qualquer que suspeitou pra prejudicar o PT e me beneficiar? Ninguém recebeu nada. Não tem materialidade, zero, zero zero. Você não precisa mentir pra falar sobre o PT, os caras arrebentaram com Petrobras, fundo de pensões, BNDES…”

A Folha divulgou a seguinte nota sobre o insulto de Bolsonaro: “O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”.

Mais tarde, o presidente se dirigiu novamente aos veículos de imprensa, após reunião com a equipe de governo, e voltou a tratar do assunto diante da repercussão negativa da declaração.

“Alguém da Folha de S.Paulo aí? Alguém da Folha de S.Paulo aí? Eu agredi sexualmente uma repórter hoje? Parabéns à mídia, aí. Não quero conversa. Eu cometi uma violência sexual contra a imprensa hoje?”, perguntou.

Ele foi questionado, então, se mantinha a declaração e se não achava desrespeitoso ter insultado a repórter com uma insinuação sexual. O presidente, no entanto, não quis responder e, como já é de praxe quando se irrita com um assunto, abandonou a entrevista.

Em uma série de reportagens desde outubro de 2018, a Folha revelou a contratação durante a campanha eleitoral de empresas de marketing que faziam envios maciços de mensagens políticas

A primeira reportagem mostrou que empresas estavam interferindo nas eleições de 2018 ao comprar pacotes de disparos de mensagens contra o PT no WhatsApp. A disseminação funciona por meio do disparo a números de celulares obtidos por agências. Uma outra tratou do uso de forma fraudulenta CPFs de idosos e até contratando agências estrangeiras.

O depoimento mentiroso de Hans à CPMI causou uma série de reações em defesa da Folha e da repórter.

O jornal repudiou em nota as mentiras e os insultos e, em reportagem baseada em documentos e gravações, apontou uma a uma as mentiras do depoente.

As manifestações contra os ataques incluíram desde líderes do Congresso a entidades da sociedade civil, de imprensa e defesa dos direitos humanos. Mulheres jornalistas divulgaram um manifesto de apoio, e um coletivo de jornalistas cobrou do Twitter exclusão de postagens ofensivas contra a repórter.

Já a relatora da CPMI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), acusou Hans de ter mentido em seu depoimento e pediu que a Procuradoria-Geral da República investigue o caso.

O Código Penal estipula que fazer afirmação falsa como testemunha em processo judicial ou inquérito é crime, com pena prevista de dois a quatro anos de reclusão, além de multa. Na condição de testemunha, Hans se comprometeu em falar a verdade à comissão. O regimento do Senado diz que a inquirição de testemunhas em CPIs segue o estabelecido na legislação processual penal.

Veja a repercussão no twitter com relação a declaração infeliz do presidente Bolsonaro:

 

 

 

 

 

 


Texto em português do Brasil

Folha SP


Nota do Editor: com a devida vénia publicamos este artigo da Folha de São Paulo, em solidariedade com a jornalista Patrícia Campos Mello e com o jornal. Instamos veementemente ambos a proceder judicialmente contra este bárbaro, indigno da função que ocupa

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