Desta vez, o assunto é a implantação da tecnologia 5G no país.
Depois das atitudes do governo brasileiro de prolongar a isenção do etanol importado dos Estados Unidos, prejudicando os produtores nacionais, de apoiar o candidato norte-americano para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e de facilitar a venda da Embraer – que não se concretizou pela desistência da Boeing –, o próprio presidente Jair Bolsonaro Brasil recebeu o conselheiro de Segurança dos Estados Unidos, Robert O’Brien, para interferir em assuntos internos. Desta vez, o assunto é a implantação da tecnologia 5G no país.
Segundo O’Brien, o Brasil não deve sequer permitir que a empresa chinesa Huawei participe do leilão da 5G sob o argumento de que ela “decifraria” dados do governo e de empresas. O representante do governo do presidente Donald Trump pronunciou essa diatribe na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O enviado da Casa Branca deitou falação contra a China, acusada de usar ataques cibernéticos. Posteriormente, O’Brien participou, junto com o presidente Jair Bolsonaro, de cerimônia para assinatura de convênio entre o Ministério da Economia e o Eximbank com o objetivo de oferecer recursos a empresas que desejarem adquirir equipamentos de concorrentes dos chineses
Por trás dos ataques recorrentes do governo Trump está a guerra tecnológica e comercial contra a China – a campanha contra a Huawei inclui o Brasil, pressionado para que ela não faça parte da escolha de empresas para implantação da rede 5G no país. O assunto está na pauta do encontro do conselheiro norte-americano com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
Trata-se de uma ingerência descabida em assuntos internos, só possível em um governo que se mostra explicitamente um vassalo da administração de Donald Trump. A exemplo dos casos anteriores, o governo Bolsonaro aceita essa intromissão com o claro objetivo de submeter o Brasil aos ditames da Casa Branca, com o agravante de que daqui a 15 dias haverá eleições nos Estados Unidos. Bolsonaro está abertamente em campanha para Trump, fazendo do Brasil um mero joguete da sua busca pela reeleição.
E o faz atacando a China, o principal parceiro comercial brasileiro. O país precisa de uma política externa que preze a sua soberania, diversificando seus parceiros para tirar proveito dos conflitos da disputa geopolítica. Subordinar seus interesses aos ditames norte-americanos é uma vassalagem que acarreta grandes prejuízos ao país.
O argumento de que a Huawei pode fazer espionagem é uma balela infantil, na medida em que a empresa chinesa está presente em diversos países e não há uma só denúncia contra ela sobre espionagem. Ademais, por acaso qualquer outra empresa não teria potencial de fazer o mesmo? Exclui-la causaria ainda graves prejuízos ao Brasil e às operadoras que atuam no país, já que a chinesa tem cerca 50% de participação no setor de comunicações.
Ao impedir a sua participação, o governo obrigaria as operadoras locais a trocar seus equipamentos para compatibilizá-los com a 5G de outros fabricantes. Isso tornaria mais lenta e mais cara a evolução dessa tecnologia no país. O Brasil tem de escolher a empresa mais vantajosa e desenvolver sua capacidade de defesa cibernética, independente de quem vença a licitação.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado