Oitivas serão parte da investigação de “tentativas de interferências políticas” de Bolsonaro na Polícia Federal.
O inquérito que apura acusações do ex-ministro Sergio Moro ao presidente Jair Bolsonaro terá importantes desdobramentos na semana que vem. O ex-diretor da Polícia Federal Maurício Valeixo, o diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem, e o ex-superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, estão convocados a depor na próxima segunda-feira (11), em Brasília e Curitiba.
Os depoimentos serão parte da investigação de “tentativas de interferências políticas” de Bolsonaro na Polícia Federal. O “número dois” da corporação, Carlos Henrique de Oliveira Sousa, o superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, e o ex-chefe da PF em Minas, Rodrigo Teixeira, também devem ser ouvidos na semana que vem, em data a ser confirmada.
Valeixo e Saadi estão no centro de atrito citado pelo ex-ministro Sérgio Moro como uma das primeiras tentativas do Planalto em querer trocar o comando da PF no Rio. Em agosto do ano passado, Bolsonaro tentou emplacar o nome do superintendente Alexandre Saraiva no lugar de Saadi, que deixava o comando fluminense. O presidente alegou que a troca seria por “questões de produtividade”, rechaçada pela cúpula da PF.
Alexandre Ramagem, por sua vez, foi o nome indicado por Bolsonaro para substituir Valeixo, cuja exoneração foi o pivô da saída de Moro do governo e a abertura do inquérito no Supremo. O diretor da Abin foi nomeado pelo Planalto, mas não tomou posse por decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes. A União revogou a indicação em seguida, e nomeou Rolando Alexandre de Souza para a chefia da PF.
Nesta sexta, a Advocacia-Geral da União pediu a “reconsideração” da decisão que barrou Ramagem. O parecer afirma que a nomeação cumpriu ‘todos os requisitos’ e que a indicação é prerrogativa privada do Presidente da República.
A próxima semana também contará com o depoimento da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), cuja oitiva está marcada para o próximo dia 13. A parlamentar será ouvida por troca de mensagens com Moro em que pede ao ex-ministro que aceite a mudança na direção-geral da PF solicitada por Bolsonaro e, em troca, ela se comprometeria ‘a ajudar’ com uma vaga no STF.
Ministros
A troca do comando da PF é a base do inquérito no Supremo Tribunal Federal que investiga as acusações de Moro contra Bolsonaro. As oitivas foram autorizadas pelo ministro Celso de Mello, decano da Corte e relator do caso, após pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras.
Além dos delegados, três ministros palacianos próximos do presidente deverão ser ouvidos no inquérito: Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Os três foram listados por Moro como testemunhas de ameaças proferidas pelo presidente contra o ex-ministro caso ele não concordasse com a troca da direção-geral da PF. Heleno, Braga Netto e Eduardo Ramos deverão ser ouvidos após os delegados da Polícia Federal. O prazo para a oitiva é de 20 dias a partir da data da autorização do decano, expedida no dia 5 de maio.
Conforme Moro relatou à PF, os três ministros participaram de duas reuniões em que o presidente Jair Bolsonaro pressionou o ex-ministro da Justiça a trocar o comando da Polícia Federal. Uma delas, no dia 22 de abril, foi gravada pelo Planalto – que já apresentou três pedidos ao decano para que reconsidere ordem para entregar as gravações.
O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e quanto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, trocaria o Diretor Geral e o próprio Ministro da Justiça”.
No dia seguinte, 23 de abril, ao ser informado pelo presidente que Maurício Valeixo seria exonerado do cargo, Moro se encontrou com Braga Netto e Augusto Heleno para informar os motivos pelos quais não aceitaria a substituição e declarou que deixaria o governo.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado