Até 18 de Outubro, decorre no Parque das Nações, em Lisboa, o 17º Campeonato de Trauma e Salvamento do Mundo, pela primeira vez no nosso País. Um evento que reúne equipas de bombeiros e pessoal médico especializado em salvamento e desencarceramento oriundas de vários países, também aberto ao público em geral.
Espanha, França, Reino Unido, Alemanha, Roménia, Luxemburgo, Suíça, Suécia, Irlanda, Holanda, República Checa, Estados Unidos da América, Canadá, um grupo de países da América Latina e Nova Zelândia, para além de Portugal, convergem por estes dias ao Parque das Nações, em Lisboa, para o World Rescue Challenge, um evento que reúne equipas de bombeiros especializados em salvamento e desencarceramento de pessoas, em situações de acidentes. Entre desencarceramento e trauma são quase 60 equipas, que prestam provas de desencarceramento e trauma.
Manobra complexa
O Tornado falou com Raimundo Ortega, um dos membros dos bombeiros de Badajoz, em Espanha, que protagonizou na manhã de sexta-feira (16 de Outubro) um exercício de desencarceramento. Declarando-se “orgulhoso” por participar no World Rescue Challenge, descreveu o exercício que a corporação hispânica acabara de protagonizar: “Esta foi uma manobra complexa que consistiu em resgatar duas vítimas em trinta minutos, a mais difícil de todas, porque uma das vítimas está bloqueada ou no volante ou no assento”. Neste exercício, uma das viaturas galgou a outra, quase esmagando a segunda viatura, de forma a aumentar o grau de dificuldade do resgate dos “feridos”. O bombeiro espanhol reconheceu que a manobra foi muito complexa pela dificuldade do acesso a uma das vítimas; ambas tinham classificações distintas, grave e não grave. “Nós chamamos “’físico 1’ e ‘físico 2’. ‘Físico 1’ significa que está consciente e aparentemente não está capturado, e ‘físico 2’ significa que está encarcerada numa parte do automóvel e está em maiores dificuldades ou inconsciente”. Em 30 minutos, os profissionais de salvamento têm de se aproximar do sinistro, e o capitão dirige as operações com alguns cuidados, como o evitar um possível derramamento de combustível do ou dos veículos envolvidos e tentar controlar qualquer tipo de risco; cada membro da equipa tem uma tarefa a cumprir assim que os veículos são imobilizados para tentar resgatar as vítimas. O bombeiro reconhece que o mau tempo e o facto do sinistro ocorrer à noite podem dificultar ainda mais o resgate mas sublinha que a equipa está bem preparada porque tem vindo a treinar há um ano, em qualquer tipo de condições.
Seis operacionais em cada equipa
Cada equipa tem seis operacionais e dois tradutores, que transmitem para os membros do júri o que se está a passar; cada júri da prova pode ser de qualquer nacionalidade. Os restantes incluem o líder, dois médicos, dois técnicos de resgate e um membro responsável pelo apoio operacional. No desafio “Desencarceramento”, as vertentes avaliadas pelo júri são as de comando, cuidados pré-hospitalares e resposta técnica. No desafio “Trauma”, as equipas a concurso são avaliadas nas vertentes de administração de cuidados casuais por um grupo de assessores médicos internacionais especializados; neste caso, cada equipa tem dois membros.
O evento estreia-se em solo português, num esforço conjunto entre a World Rescue Organization (WRO) e a Associação Nacional de Salvamento e Desencarceramento (ANSD). Fundada em 2012, a ANSD levou dois anos a preparar este evento em conjunto com a WRO e o apoio da autarquia lisboeta. João Nunes, director de marketing, revelou ao Tornado que existiram orientações e protocolos rígidos a seguir para tornar o evento realidade.
A WRO escolheu o País para anfitrião do evento como “uma aposta arriscada”, mas que já dá bons resultados: “conquista-se o maior número de equipas inscritas até ao momento” em 17 anos de Mundiais, tornando este “o maior Mundial de sempre”, enfatiza o responsável. Entre as equipas lusas, destacam-se três, que têm vindo a ganhar vários prémios. O Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa, os Bombeiros da Figueira da Foz e o Batalhão de Sapadores do Porto, “equipas profundamente treinadas, algumas delas não profissionais, que trazem para o Mundial acima de tudo um empenho brutal e uma preparação rigorosíssima ao longo destes dois anos”, afirmou João Nunes, que sublinhou o elevado nível de preparação destas equipas. Inclusive, o RSBL recebeu o epíteto de “CR7 do desencarceramento”: o Regimento sagrou-se vice-campeão mundial de desencarceramento em manobra rápida, no campeonato mundial que se disputou o ano passado, em Inglaterra, e conquistou o primeiro lugar na classificação geral.
A ANSD afirma apostar essencialmente na formação e o seu director de marketing revela que já está a ser preparado outro evento, a nível mundial, nesse âmbito: “é possível que em breve tempo se anuncie, depois do evento mundial, um congresso mundial”, sem querer entrar em mais detalhes.